Quando foi lançado nos cinemas, Godzilla, de Gareth Edwards (2014), foi alardeado como uma versão americana do filme original de Ishirô Honda, de 1954. Por isso, o tom sério de filme catástrofe. Para dar continuidade à história com base no cânone, no entanto, seria preciso investir em tramas mais rocambolescas e elevar a escala dos conflitos de monstros gigantes.
Godzilla II: Rei dos Monstros (2019), de Michael Dougherty, surge como uma espécie de resumo do que foi a Era Shōwa para o gigante radioativo. Para quem não tem muita familiaridade com os títulos da Toho, no período entre 1955 e 1975 estrearam duas dezenas de títulos com o personagem lutando com criaturas de outros planetas, robôs gigantes e entidades divinas ancestrais.
Em seu filme, Dougherty mistura vários desses ingredientes para criar uma narrativa de ação ininterrupta que abandona a ambientação lenta e a atmosfera do longa-metragem anterior. Cinco anos depois dos confrontos de Godzilla com os Mutos em São Francisco, a organização Monarch monitora o aparecimento silencioso de dezenas de outras criaturas gigantes espalhadas pelo planeta.
Um crítico da Folha de S. Paulo, na época do lançamento, afirmou que a obra não passava de “um vale-tudo de répteis gigantes”. Aparentemente, era exatamente isso que Dougherty queria com o filme.
Vera Farmiga vive uma pesquisadora da entidade que, ao lado da filha interpretada por Millie Bobby Brown, se envolve com um grupo ecoterrorista, liderado por Alan Jonah (Charles Dance), cujo objetivo é tirar os monstros gigantes vigiados pela Monarch de hibernação. O primeiro a ser acordado é King Ghidorah, um dragão de três cabeças – presente em uma porção de filmes da Toho.
O verdadeiro protagonista do enredo é o ex-marido da personagem de Farmiga, Mark Russell (Kyle Chandler), que lidera uma equipe que tenta conter os estragos causados por Ghidorah ao lado de Godzilla. O filme também dá espaço de coadjuvantes de luxo para Mothra, a mariposa introduzida pela primeira vez em Mothra – A Deusa Selvagem (1961): e Rodan, um pterodáctilo cujo poder de destruição vem de voos rasantes sobre as cidades, visto originalmente em Rodan, o Monstro do Espaço (1956).
Com tantos elementos, a narrativa fica com uma estrutura bastante apressada. Há pouco tempo para trabalhar as consequências de tantas criaturas gigantes no mundo. O elenco grandioso parece igualmente sem espaço de tela. Ziyi Zhang, Sally Hawkins e Bradley Whitford não têm basicamente nada para fazer na trama. Ken Watanabe retorna como Dr. Serizawa para pelo menos uma grande cena na trama.
Nada disso é exatamente um defeito de Godzilla II: Rei dos Monstros, visto que a proposta da Legendary parecia ser emular as tramas mais carnavalescas da Toho. Um crítico da Folha de S. Paulo, na época do lançamento, afirmou que a obra não passava de “um vale-tudo de répteis gigantes” (leia mais). Aparentemente, era exatamente isso que Dougherty queria com o filme.