Dirigido pelo ucraniano Eugène Lourié, Gorgo (1961) estreou no Ocidente como uma resposta britânica a Godzilla (1954). Obviamente inspirado pelo clássico de Ishirô Honda, a produção tinha um ator usando uma fantasia de monstro gigante, cidades em miniaturas destruídas e até uma metáfora sobre o domínio do homem pelo meio-ambiente.
A trama começa quando um vulcão entra em erupção próximo a um navio que busca por tesouros afundados na costa da Irlanda. O cataclismo libera uma criatura gigante, com traços de lagartos, que ataca os mergulhadores. O animal é abatido pela tripulação e levado para Londres, onde vira atração de circo. O problema é que o monstro é apenas um filhote e a mãe invade a cidade para resgatá-lo.
Sem a gravidade de sua contraparte japonesa, Gorgo funciona como uma aventura para crianças. Um dos protagonistas da história é, inclusive, um menino, que se afeiçoa à criatura presa numa jaula. É ele quem carrega a mensagem ecológica do filme, defendendo-a para os adultos que o cercam.
Sem a gravidade de sua contraparte japonesa, ‘Gorgo’ funciona como uma aventura para crianças.
Financiado por uma parceria entre a Irlanda, os Estados Unidos e o Reino Unido, a obra é uma das fitas mais famosas do ocidente ao usar a técnica de suitmation. Os grandiosos cenários dão uma dimensão do quanto os produtores foram ambiciosos no visual. Os efeitos visuais do filme que são bem impressionantes, mesmo para os padrões atuais.
Na época, a referência para narrativas de monstros gigantes fora do Japão era o stop motion. O próprio Lourié havia dirigido dois outros filmes no escopo kaiju em O Monstro do Mar (1953) e O Monstro Submarino (1959) usando efeitos visuais de Ray Harryhausen e Willis O’Brien, respectivamente. Gorgo, aliás, seria a última produção do cineasta como diretor, então bastante amargurado pela fama de ser alguém que trabalhava apenas com ficções científicas baratas.
No Brasil, o longa-metragem estreou em 1962. Uma crítica no jornal Diário da Noite, na semana do lançamento, descreveu que o filme era “evidentemente inspirado em King Kong”. O texto não chega a citar Godzilla, mas elogia o acabamento da produção. De Kong, Gorgo talvez herde a ideia de um monstro como um espetáculo para o público, mas não passa muito disso.
O sucesso de Gorgo nos cinemas estimulou uma série em quadrinhos, publicada pela Charlton Comics durante quatro anos. As revistas ajudaram a sedimentar a criatura no imaginário popular, que ficaria famosa nas décadas seguintes pelas reprises na televisão.