• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Colunas Espanto

Há 55 anos, nascia o Zé do Caixão

porRodolfo Stancki
18 de setembro de 2019
em Espanto
A A
O cineasta José Mojica Marins como o personagem Zé do Caixão, no filme 'Encarnação do Demônio'. Imagem: Reprodução.

O cineasta José Mojica Marins como o personagem Zé do Caixão, no filme 'Encarnação do Demônio'. Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

O cinema de horror nacional e o coveiro Zé do Caixão nasceram de um pesadelo do cineasta José Mojica Marins, que delirou com uma figura vestida de preto o arrastando para dentro de uma cova. O sonho veio como um raio, que o fez se lembrar dos filmes de monstro que via na infância, quando o pai era responsável por uma sala de projeção em São Paulo.

Naquele período, por volta de 1963, o artista trabalhava em um longa-metragem policial. O tormento noturno o levou a interromper as filmagens e começar, às pressas, a produção de À Meia-noite Levarei Sua Alma (1964). A obra se tornaria a primeira fita de horror do cinema brasileiro.

O cartaz de divulgação já anunciava o pioneirismo, como recorda o jornalista Carlos Primati, que esteve por trás do lançamento de parte da filmografia do diretor em DVD, em 2002. “Até então, o país não tinha nenhum longa-metragem que assumisse o gênero abertamente”, comenta. Pelo menos não como visto nos Estados Unidos e na Europa.

Obras como O Caiçara (1950), Presença de Anita (1951) e Meu Destino É Pecar (1952) usavam o imaginário gótico, mas não se classificavam como horríficas. Mojica, que hoje está com 83 anos, se aproveitou da brecha com convicção e se tornou um símbolo do horror no Brasil.

Sucesso

Parte da fama do diretor foi construída por acaso, pois, inicialmente, não pretendia assumir a capa e a cartola de Zé do Caixão. Como não encontrava ninguém que o convencesse no papel, decidiu ele mesmo protagonizar À Meia-noite Levarei Sua Alma.

Assim que foi lançado, o filme se tornou sucesso de público. Fruto de seu tempo, a produção dialogava com as classes populares do Brasil, mexendo com medos tipicamente nacionais, como almas penadas e maldições de ciganos.

Para pagar as dívidas da produção, Mojica precisou vender os direitos de distribuição e ficou de fora da arrecadação. Mesmo assim, a obra lhe rendeu fama e garantiu a continuidade da trajetória de seu personagem coveiro em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967). Criador e criatura começavam a se confundir.

“Aos poucos, ele se tornou uma espécie de folclore brasileiro”, observa o jornalista Ivan Finotti, coautor da biografia Maldito: a Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, ao lado do também jornalista André Barcinski. No início da década seguinte, o diretor, que já havia lançado obras como O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968) e Ritual dos Sádicos (1970), passou a ter seguidores e concorrentes no gênero.

Expansão

Foi em um reduto do Centro de São Paulo que admiradores do experimentalismo de Mojica realizaram produções que dialogavam com o horror. O local ficou conhecido como Boca do Lixo e se tornou espaço de produção de cineastas como Rogério Sganzerla, de O Bandido da Luz Vermelha (1968), e Walter Hugo Khouri, de As Filhas do Fogo (1978).

Em sua tese de doutorado, a pesquisadora Laura Cánepa levantou mais de uma centena de títulos produzidos no Brasil e que podem ser caracterizados como parte do cinema de horror. “O problema é que, ao contrário da obra de Mojica, esses filmes estavam ligados a outros ciclos, como o das pornochanchadas”, diz a autora.

A lista de produções paulistas surgidas depois da estreia de Zé do Caixão inclui longas-metragens como Excitação (1976), de Jean Garret; Ninfas Diabólicas (1976), de John Doo; e Seduzidas pelo Demônio (1977), de Rafaelle Rossi. No Rio de Janeiro, o carioca Ivan Cardoso se inspirava nos monstros hollywoodianos para lançar O Segredo da Múmia (1982) e As Sete Vampiras (1986).

Um dos grandes legados dos filmes de José Mojica Marins para a cultura nacional é o próprio Zé do Caixão. Há poucos exemplos de integração entre artista e obra no mundo como o do cineasta.

Declínio e retomada

Enquanto isso, Mojica lutava contra a censura que perseguia suas produções por apresentar temas transgressores, como sexo e drogas. “Ele teve muitos problemas com o Estado, o que atrapalhou bastante sua carreira”, complementa o biógrafo André Barcinski. A perseguição o levou a se dedicar aos filmes de sexo explícito, que ainda rendiam dinheiro nos anos 1980.

Zé do Caixão não caiu no esquecimento graças a fãs como Barcinski, que ajudou a lançar parte da obra do cineasta nos Estados Unidos em VHS na década seguinte. O diretor Dennison Ramalho foi outro militante a manter a memória do artista viva. O cineasta fez parte do ciclo de retomada do cinema de horror nacional nos anos 2000, ao lado do capixaba Rodrigo Aragão e do curitibano Paulo Biscaia Filho, e foi um dos responsáveis por levar Mojica de volta ao cargo de diretor, em Encarnação do Demônio (2008).

Cineasta se confunde com a própria obra

Um dos grandes legados dos filmes de José Mojica Marins para a cultura nacional é o próprio Zé do Caixão. Há poucos exemplos de integração entre artista e obra no mundo como o do cineasta. Quando andava pelas ruas de São Paulo, as pessoas o chamam pelo nome do coveiro. As unhas compridas do personagem foram adotadas no dia a dia do diretor.

Em seu programa de entrevistas O Estranho Mundo de Zé do Caixão, que era exibido pelo Canal Brasil, ele falava da própria vida e proferia maldições como se fosse um místico. Consciente de que parte do público o achava engraçado, Mojica explorava o lado bem humorado de seu personagem. Seus filmes, no entanto, sempre tiveram um caráter mais sério.

Nem todos sabem disso. Quando a obra é citada em rodas de conversas, as pessoas se espantam ao descobrirem que os filmes apresentam tramas pesadas e cenas fortes. Em Encarnação do Demônio (2008), uma mulher é amarrada dentro de um porco morto (de verdade) enquanto outra mergulha em um barril com milhares de baratas. Na trama de Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966), o coveiro tortura mulheres com aranhas e cobras.

Críticos americanos como o youtuber James Rolfe descrevem o cinema de Mojica como “doentio”, tamanho o sadismo de Zé do Caixão, conhecido lá fora como Coffin Joe. Trata-se de um personagem estuprador, iconoclasta e blasfemo. Um exemplo disso é a zombaria que faz das almas penadas ao fim de À Meia-noite Levarei Sua Alma (1964). A cena, inclusive, é uma das mais importantes da história do cinema nacional, pois faz um uso brilhante de efeitos visuais artesanais.

“O problema é que suas aparições públicas o tornaram uma figura folclórica associada à comédia”, diz um de seus biógrafos Ivan Finotti. Durante os anos 1980, o artista fez matérias sensacionalistas para o jornal Notícias Populares, cortou suas unhas publicamente no programa do Gugu Liberato e concorreu ao cargo de deputado federal. Chegou a animar bingo em tempos de vacas magras.

Brutalidade

Em função de tudo isso, o teor sério de suas obras espanta quem o descobre no cinema. “Via muito o personagem na televisão, mas quando assisti a alguns de seus filmes fiquei impressionado. Era um horror para adulto, que buscava encontrar o medo primitivo das pessoas”, descreve o cineasta Dennison Ramalho, que nos anos 2000 roteirizou Encarnação do Demônio.

“Eram filmes feitos com muita paixão, cheios de energia nacional”, observa o diretor Rodrigo Aragão. O capixaba, que convidou Mojica para comandar um trecho do projeto Fábulas Negras em 2014, já foi apontado como sucessor do cineasta paulista. O título, ele rejeita. “Zé do Caixão é único e insubstituível.”

Texto publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo, em 11 de julho de 2014. 

link para a página do facebook do portal de jornalismo cultural a escotilha

Tags: À Meia-Noite Levarei Sua AlmaAndré BarcinskiBoca do LixoCinema de HorrorEncarnação do Demôniohorror nacionalIvan FinottiJosé Mojica MarinsZé do Caixão

VEJA TAMBÉM

Cena do filme 'Godzilla Minus One'. Imagem: Divulgação.
Espanto

‘Godzilla Minus One’ emociona com a vida e não com a destruição

3 de abril de 2024
Cena do filme 'Somente Deus por Testemunha'. Imagem: Reprodução.
Espanto

‘Somente Deus por Testemunha’ horrorizou sobreviventes do Titanic

16 de fevereiro de 2024

FIQUE POR DENTRO

Famoso prédio paulistano é personagem de documentário vencedor do É Tudo Verdade. Imagem: O Par / Divulgação.

‘Copan’ apresenta o famoso prédio como uma tradução do Brasil

21 de maio de 2025
Grupo de Arca, Gana, vem ao Brasil pela primeira vez. Imagem: Babajide Osho / Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: SuperJazzClub

20 de maio de 2025
English Teacher chegam ao Brasil para mostrar uma nova cara do indie britânico. Imagem: Tatiana Pozuelo / Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: English Teacher

20 de maio de 2025
A escritora Tati Bernardi. Imagem: Bob Wolfenson / Divulgação.

Em ‘A Boba da Corte’, Tati Bernardi arquiteta uma vingança de classe

20 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.