Alerta: este texto contém spoilers sobre filmes da franquia A Hora do Pesadelo.
A série A Hora do Pesadelo marcou a vida de muita gente em Hollywood. Robert Englund deixou o anonimato para se fundir ao personagem Freddy Krueger. O produtor Robert Shaye praticamente ergueu a New Line Cinema do nada com os lucros da franquia. O diretor Renny Harlin dificilmente teria conseguido comandar Duro de Matar 2 (1990) sem o sucesso de A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos Sonhos (1988).
A lista é longa. Especialmente se levarmos em conta que, para muitos atores, ser uma das vítimas do maníaco criado por Wes Craven foi o ponto alto da carreira. Um dos casos mais sintomáticos dessa situação é o de Heather Langenkamp, intérprete de Nancy Thompson – possivelmente a maior nêmesis do vilanesco pedófilo dos sonhos.
Aos 20 anos, a atriz despontou no cinema no mesmo ano em que gravou sua participação no primeiro A Hora do Pesadelo (1984), que protagonizou ao lado de Johnny Depp. Ela ficou de fora da sequência porque os produtores queriam um novo rumo para a série e buscaram um herói masculino. A escolha foi por Mark Patton e o resultado foi A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (1985) (leia mais).
Por que não existem brinquedos de Nancy Thompson? Teria ela algum tipo de iconografia, como o pulôver verde e vermelho e as garras de Krueger?
Quando Bob Shaye chamou Wes Craven para trabalhar no roteiro de A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos (1986), o cineasta decidiu que chamaria de volta outros rostos conhecidos do primeiro filme além de Englund. Heather e John Saxon, que interpretou o pai da personagem, foram os escalados para a tarefa.
A essa altura, Freddy Krueger era um fenômeno em ascensão, mas sem pretensões de continuar com novos títulos anuais, aos moldes de Sexta-Feira 13. De acordo com depoimentos do elenco e da equipe de produção cedidos à dupla Daniel Farrands e Andrew Kasch, no documentário Never Sleep Again: The Elm Street Legacy (2010), o terceiro filme foi planejado para ser o último. Por isso, Nancy sacrifica a própria vida para derrotar o vilão.
Como A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos (1986) se tornou o título mais lucrativa da série até então, os produtores investiram pesado em novas sequências. Eventualmente, ficou claro que Krueger precisava de um desfecho digno do ícone que o personagem havia se transformado, e Craven novamente volta para a cadeira de diretor no interessantíssimo O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger (1994).
Heather, Saxon e um bando de outros atores que passaram pela série retornam, dessa vez, como eles mesmos em uma estranha narrativa sobre um Freddy Krueger que deseja sair das telas de cinema e invadir o mundo real. Nesse jogo de metalinguagem, a atriz revive alguns de seus próprios dramas como ser deixada de lado pelos fãs, enquanto Englund é assediado por autógrafos.
A verdade é que, apesar de ser um personagem importante, Nancy Thompson não virou uma referência imediata quando as pessoas lembram de A Hora do Pesadelo. O mesmo vale para sua intérprete, que geralmente não aparece nos produtos culturais envolvendo a franquia, como revistas de quadrinhos, pôsteres e bonecos de ação.
Depois de anos na amargura de ser esquecida, Heather decidiu transformar sua condição em um documentário-terapia chamado I Am Nancy (2011), dirigido por Arlene Marechal. O filme pega carona em Never Sleep Again: The Elm Street Legacy e investiga de que modo a heroína marcou os fãs de Freddy Krueger.
As gravações acompanham a atriz em convenções de horror e em entrevistas com Craven, Englund e uma porção de fanáticos pela franquia. Por que não existem brinquedos da personagem? Teria ela algum tipo de iconografia, como o pulôver verde e vermelho e as garras de Krueger? São perguntas que Heather não responde, mas mostram como é estar à sombra de um ícone da cultura pop.