No badalado O Farol (2019), o personagem de Robert Pattinson, Thomas Howard, gradativamente enlouquece no isolamento de suas tarefas em uma ilha e no convívio com o destemperado parceiro Thomas Wake (Willen Dafoe). Nas imagens criadas pelo cineasta Robert Eggers, que assina a direção do filme, a loucura aparece na tela como parte da narrativa. Delírio e realidade se misturam para o espectador, que precisa decifrar se o que está vendo se passa na materialidade do relacionamento entre os dois personagens ou na cabeça de um deles.
Há uma óbvia proximidade entre a nova produção do diretor do revolucionário A Bruxa (2015) e o clássico O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick. Rejeitando a premissa da obra escrita Stephen King, o visionário cineasta por trás de 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968) transformou a história de um homem cujo violento fantasma da bebida é alimentado por um hotel assombrado em um enredo de horror psicológico.
De certa forma, toda obra cinematográfica é como um delírio, que nos permite olhar para novos mundos, que se misturam com os nossos. Quando sobem os créditos, voltamos à sanidade da vida diária.
No livro, John Torrance é influenciado pela presença maligna de Hotel Overlook. Nas telas, Jack Torrance (Jack Nicholson) pode, facilmente, estar tomado por delírios provocados pelo isolamento e pelo álcool. Kubrick compartilha conosco algumas das alucinações do personagem, convidando-nos a vivenciar sua insanidade por meio da tela – tal qual faz Eggers em O Farol.
Em O prazer dos olhos: escritos sobre cinema, o cineasta François Truffaut compara o cinema ao ato de sonhar. As imagens que surgem diante de nossos olhos em um filme nos permite ver representações de um imaginário que só seriam possíveis nas nossas cabeças. De certa forma, toda obra cinematográfica é como um delírio, que nos permite olhar para novos mundos, que se misturam com os nossos. Quando sobem os créditos, voltamos à sanidade da vida diária.
Para Stephen King, que ainda se diz descontente com a versão de Kubrick para O Iluminado, o horror não seria bem um sonho, mas um pesadelo. É ali que se manifestam nossos maiores medos, como se fosse um painel em que pudéssemos enxergar os temores que assombram nossas mentes.
A maioria de nós já acordou, suando, no meio da madrugada por causa de um tormento durante o sono. Encontramos conforto ao acordar. A analogia com o cinema não é gratuita. A sétima arte é uma porta para a loucura. Felizmente, conseguimos experimentá-la com a segurança de podermos voltar aos nossos afazeres depois que o filme acaba