Quando Roger Corman esteve em Curitiba, em 2014, ele contou que aceitou dirigir Frankenstein – Terror das Trevas (1990) por dinheiro. O cineasta recebeu US$ 1 milhão para comandar a produção (provavelmente seu maior salário como contratado), que foi financiada pelo estúdio após uma pesquisa revelar que seu nome e a criação de Mary Shelley gerariam interesse no público.
No fim das contas, a produção não foi tão bem quanto os executivos esperavam, mas serviu como um interessante desfecho para a carreira de Corman. Especialmente porque a trama toda é uma extravagância, que envolve viagem no tempo e cenas futuristas na Inglaterra vitoriana. O título também serve de exemplo sobre como Hollywood fez estranhas escolhas na década de 1990, ao dar um tratamento luxuoso a narrativas que usualmente eram feitas com recursos escassos.
Hoje, a maior produtora do segmento, a Blumhouse, segue defendendo que é preciso investir pouco em histórias originais para agradar o público e ter um bom retorno financeiro.
Em um artigo para o livro Horror Zone – cultural experience of horror cinema, a pesquisadora Stacey Abbott afirma que a ideia de blockbuster de horror é bastante incomum. Isso porque os filmes do gênero costumam atrair um nicho bem específico por conta das classificações indicativas. Logo, dificilmente atingem a grande massa.
Há bons exemplos na geração new horror de filmes que invertem essa lógica. O Exorcista (1974), Tubarão (1975) e Alien – O Oitavo Passageiro (1979) são os mais famosos, embora tenham saído do papel por até US$ 12 milhões em valores não ajustados. Na década de 1980, Força Sinistra (1985), Aliens, O Resgate (1986), e A Mosca (1986) foram algumas das produções mais caras do gênero – a primeira com um lugar especial no pódio, por ter custado absurdos US$ 25 milhões e não ter rendido nem metade disso na bilheteria.
Nos anos noventa, o gradativo crescimento das bilheterias cria um fenômeno novo: o das refilmagens com grandes orçamentos. Histórias que classicamente eram contadas com pouco dinheiro, passaram a ser alvo de diretores e estúdios que queriam criar verdadeiros épicos em cima de narrativas baratas.
Em 1992, Francis Ford Coppola tirou do papel seu ambicioso Drácula de Bram Stoker (1992) por US$ 40 milhões. Dois anos depois, Kenneth Branagh filmou Frankenstein de Mary Shelley (1994) por US$ 45 milhões. Na mesma época, Neil Jordan lançava Entrevista com Vampiro (1994), que havia sido rodado por US$ 60 milhões. O Lobo (1994), dirigido por Mike Nichols com Jack Nicholson como protagonista, custou US$ 70 milhões, uma quantia quase inacreditável para a época.

Pela primeira vez na história do horror, atores do primeiro time de Hollywood disputavam por um papel dentro do gênero. Tom Cruise, Michelle Pfeiffer, Robert De Niro e Anthony Hopkins, nomes consagrados na indústria, encarnaram vampiros, monstros e assassinos nesse período.
O fenômeno mais estranho, porém, começou na segunda metade da década, com a tentativa de recriar fenômenos de bilheteria dos anos 1950. Produções que não chegaram a custar centenas de dólares, passaram a ser rodadas com orçamentos quase astronômicos, em termos de comparação. A refilmagem de Diabolique (1996) custou US$ 39 milhões. O Psicose (1998) de Gus Van Sant saiu por US$ 60 milhões. A Casa Amaldiçoada (1999), versão de Jan de Bont para Desafio do Além (1963), foi feita por inacreditáveis US$ 80 milhões.
Esse comportamento do mercado cinematográfico norte-americano acabou levando o horror de grande orçamento para outras direções. Quando foi tirar do papel o remake de A Múmia (1999), a Universal investiu US$ 80 milhões e apostou com segurança, pois transformou a trama em uma aventura para toda a família. O efeito levaria o estúdio a rodar Van Helsing (2004) por US$ 160 milhões.
Como esperado, nem todas essas produções se pagaram. A memória que ficou do período também não foi lá muito boa, pois geralmente a década de 1990 é lembrada pelos cinéfilos do horror com pouca nostalgia. Na virada dos anos 2000, o baixo orçamento já havia voltado a ser tendência no gênero com o fenômeno A Bruxa de Blair (1999). Hoje, a maior produtora do segmento, a Blumhouse, segue defendendo que é preciso investir pouco em histórias originais para agradar o público e ter um bom retorno financeiro. Um pensamento bem próximo do que o de Roger Corman na maior parte de sua carreira.