O diretor M. Night Shyamalan pertence a uma geração de cineastas que cresceu com os filmes da nova Hollywood. Em entrevistas, ele frequentemente cita a influência de Steven Spielberg. Diz que ver Os Caçadores da Arca Perdida (1981) na infância foi como uma revelação, que o fez abandonar a carreira de médico planejada pelos pais para perseguir o cinema.
Praticamente toda filmografia de Shyamalan faz algum tipo de referência ao legado do diretor de E.T. – O Extraterrestre (1984). O contato com o fantástico é sempre com os pés na realidade, o que faz com que os personagens vislumbrem o impossível com admiração.
No cinema de Spielberg, o olhar deslumbrado tem sido chamado por críticos de “Spielberg Face” (saiba mais). A expressão de Elliott diante do amigo alienígena, em alguma medida, é semelhante a do filho de Bruce Willis em Corpo Fechado (2000) quando descobre que o pai pode ser um super-herói.
![Cena de 'O Sexto Sentido'](https://escotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/04/O_Sexto_Sentido_1999.jpg)
Como Spielberg, Shyamalan foi muito cedo condecorado como gênio por Hollywood. Tornou-se uma marca, que carrega para os filmes que escreve, produz e dirige.
A Spielberg Face representa um momento de realização, em que os protagonistas antecipam, por segundos, o que vê o público. É isso o que o menino de Olhos Abertos (1998) procura nos sinais divinos. É a face dos coadjuvantes de O Último Mestre do Ar (2010) ao perceberem os poderes do jovem Aang. Também é a maneira como Haley Joel Osment observa os fantasmas em O Sexto Sentido (1999).
A expressão de Osment, aliás, é emprestada de Shyamalan por Spielberg em A.I.: Inteligência Artificial (2001). Em certo momento do filme, o garoto tem o olhar congelado no tempo diante da fada azul de cerâmica no fundo do oceano. Essa não seria a primeira vez que o diretor veterano emprestaria elementos de seu tiete. A dinâmica da família desestruturada de Sinais (2002) é continuamente repetida em Guerra dos Mundos (2005), com Tom Cruise fazendo as vezes de Mel Gibson.
![Mel Gibson em Sinais, outro sucesso de Shyamalan](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Sinais_2002-1024x605.jpg)
Os problemas na relação entre pais e filhos, temática recorrente no cinema Spielberg, também aparecem com frequência nos filmes de Shyamalan. Em seu longa-metragem de estreia, Praying with Anger (1992), o diretor indiano retrata a si próprio como alguém enviado contra a vontade para a Índia pelos pais. Em uma família improvisada, ele precisa respeitar costumes e evitar conflitos com a figura paterna que o acolhe.
O dilema familiar também surge em Depois da Terra (2013), quando Jaden Smith usa sua jornada para reatar laços perdidos com o pai. É também o que conduz as crianças de A Visita (2015) a entrarem em contato com os avós, com quem nunca tiveram contato. Fragmentado (2017) dá a entender que as múltiplas personalidades de James McAvoy foram criadas por constantes abusos da mãe na infância do personagem.
Na maior parte de sua filmografia, Shyamalan tem até seu próprio John Williams: o compositor James Newton Howard, com quem trabalhou em oito produções. Como Spielberg, o cineasta indiano foi muito cedo condecorado como gênio por Hollywood. Tornou-se uma marca, que carrega para os filmes que escreve, produz e dirige. O que distancia os dois é o sucesso, muito menor para o diretor de O Sexto Sentido (1999).
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