Lançado em 1979, A Zona Morta foi o primeiro livro de Stephen King a chegar ao topo da lista de mais vendidos nos Estados Unidos. Muitos consideram a obra como um ponto de virada na carreira do escritor, que se consolidou como um implacável fenômeno literário a partir dali.
O romance também foi pioneiro ao propor um universo em que suas histórias poderiam ser compartilhadas, apresentando a cidade de Castle Rock ao público. O local também seria palco de enredos como Cão Raivoso (1981), A Metade Negra (1989) e Trocas Macabras (1991).
O sucesso de vendas garantiu que A Zona Morta tivesse os direitos imediatamente vendidos para o cinema. King, afinal, era um nome quente em Hollywood desde a estreia de Carrie – A Estranha (1977), dirigido por Brian De Palma. Curiosamente, a adaptação, que seria financiado pelo produtor italiano Dino De Laurentiis, caiu no colo do canadense David Cronenberg, outro membro importante da geração new horror.
A jornalista Jessie Horsting descreve Na Hora da Zona Morta como uma tragédia americana. Cronenberg, inclusive, buscava isso no visual da obra, inspirando-se nas pinturas do artista Norman Rockwell para compor a direção de arte do filme.
Quando assumiu o comando do que viria a se tornar Na Hora da Zona Morta (1983), Cronenberg era associado ao subgênero de horror corporal (body horror) por causa de títulos como Calafrios (1975), Os Filhos do Medo (1979) e Videodrome: A Síndrome do Vídeo (1982). Por isso, é curioso notar como o cineasta deixa um pouco de lado as deformações físicas de seus personagens para criar uma lúgubre narrativa sobre um homem que desenvolve o poder da premonição após passar cinco anos em um coma.
Vivido por Christopher Walken, Johnny Smith é um herói típico de King: um sujeito ordinário de uma cidade pequena da Nova Inglaterra que se vê diante de uma situação de perigo. Tanto no romance quanto no filme, sua trajetória é cercada por uma atmosfera trágica. Depois de deixar a namorada (Brooke Adams) em casa, ele sofre um acidente de carro que o deixa em coma por cinco anos. Quando acorda, descobre que possui poderes de premonição, mas precisa viver sozinho pois sua amada se casou com outro.
O que poderia ser visto como um dom acaba se tornando uma maldição a Smith, que vive isolado e sem contato com estranhos. Sai de casa apenas para ajudar o xerife Bannerman (Tom Skerritt) a encontrar o estrangulador de Castle Rock, fato que acaba marcando a história da cidade – como revelam as referências deixadas na primeira temporada do seriado homônimo do Hulu, lançado em 2018.
No livro Stephen King at the Movies, a jornalista Jessie Horsting descreve Na Hora da Zona Morta como uma tragédia americana. Cronenberg, inclusive, buscava isso no visual da obra, inspirando-se nas pinturas do artista Norman Rockwell para compor a direção de arte do filme. A escolha impacta diretamente no aspecto ordinário e deprimente de Castle Rock, que influenciaria no modo como ela é representada em outros filmes e séries.
A música de Michael Kamen também ajuda nessa ideia de que Smith é um sujeito maldito, vivendo sob a constante ameaça de que algo ruim vai acontecer. O compositor criou a trilha em seu apartamento e ouviu constantes pedidos dos vizinhos para que parasse de tocar o piano pois a melodia os assustava.
A mesma trama seria posteriormente adaptada para a televisão na série O Vidente, que foi ao ar entre 2002 e 2007. O programa, que tinha um tom mais leve e bem-humorado e colocava Anthony Michael Hall no papel de Walken, herdou muitas das escolhas feitas no filme de Cronenberg, especialmente o modo como colocava o protagonista no meio das visões como um espectador presente, mas impotente, das cenas de horror que enxerga quando toca em alguém.