O jovem Ray Harryhausen tinha 13 anos quando viu King Kong (1933) pela primeira vez. Ficou tão impressionado pelo que aparecia na tela que decidiu ir atrás de Willis O’Brien, o responsável pelos efeitos visuais do clássico dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack. Do pioneiro da animação em stop motion, o jovem aprendiz recebeu dicas para estudar anatomia, artes visuais e cinema.
Quando a guerra acabou, o ansioso e ainda inexperiente Harryhausen foi trabalhar em comerciais. Criou a própria franquia de animações. O portfólio chamou a atenção de O’Brien, que o convocou para ser seu assistente nos efeitos visuais de O Monstro de um Mundo Perdido (1949) – obra que prometia ser o próximo grande título de macaco gigante.
Com produção original de John Ford, a versão original de O Poderoso Joe (1998) era basicamente uma fotocópia de King Kong. Além do mesmo responsável pela animação em stop motion, o longa-metragem também trazia o retorno de Cooper (dessa vez como argumentista) e Schoedsack na direção. O longa também conta com a volta de Ruth Rose no roteiro.
Na história, Robert Armstrong, o Carl Denham do clássico de 1933, vive um ambicioso empresário do show business chamado Max O’Hara. Em busca de uma nova atração para seu circo, ele organiza uma expedição para a África com cowboys. Lá, encontra uma jovem mulher, interpretada por Terry Moore, que cuida de um gigantesco gorila em sua propriedade. O magnata não demora a convencê-la a se mudar para Los Angeles com o primata em troca de fama.
O filme pavimentou o caminho a ser percorrido por Harryhausen, que semeou ali algumas das suas impressionantes técnicas de efeitos visuais.
Como uma repaginação de King Kong, O Monstro de um Mundo Perdido teria pouco a oferecer ao público se não fosse o trabalho de Harryhausen. Segundo registros de bastidores, O’Brien basicamente delegou a animação inteira ao pupilo, que superou o mestre em vários aspectos. O monstro, aqui, interage com bastante naturalidade com atores e animais. Em vários momentos é desafiador notar quando termina o stop motion e quando começa o live action.
O filme pavimentou o caminho a ser percorrido por Harryhausen, que semeou ali algumas das suas impressionantes técnicas de efeitos visuais. Tal qual um show de circo, a obra encara uma cena espetacular atrás de outra – amarradas por um fiapo de narrativa.
Como em King Kong, há um sério tom colonialista presente no argumento de Cooper. Negros são tratados como serviçais impressionados com joias e iguarias ocidentais. O sujeito que caça leões é visto como bondoso quando decide proteger o gorila protagonista. A moça branca é a única a se preocupar com a exploração territorial dos americanos.
O Monstro de um Mundo Perdido chegou ao Brasil em dezembro de 1949. As reportagens da época, que pareciam reproduções de um release, afirmavam que o gorila era o maior já visto na história do cinema. Um exagero publicitário.
No Diário Carioca, um jornalista pareceu até confundir o símio com um animal de verdade. “A equipe de cinematografistas [sic.] esteve em terras africanas, junto com uma expedição real, viveu ali e de lá trouxe, após meses e meses de indigentes esforços e procuras, esse incrível ‘Joe’ – o gorila tornado ‘astro’ de Hollywood – fazendo-o trabalhar esplendidamente também nas cenas que se passam na América.”
O trecho é uma evidência de que o trabalho de stop motion do então jovem Harryhausen era, de fato, impressionante.