Parte de uma seleta lista de filmes de um subgênero conhecido estranho velho oeste (weird western), O Vale de Gwangi (1969) é uma inventiva reimaginação da história de King Kong (1932) produzida por Ray Harryhausen. No lugar de um gorila gigante em Nova York nos anos 30, o filme dirigido por Jim O’Connolly apresenta ao público um tiranossauro, que destrói uma cidade no interior do México na virada do século 20.
As familiaridades com o clássico do cinema americano não param por aí. No longa de O’Connolly, um grupo de artistas de um circo cowboy realiza uma expedição em um vale escondido no meio das montanhas mexicanas, onde vivem diversos dinossauros. O local é protegido pela população da região, que está disposta a matar os invasores para impedir que descubram os animais pré-históricos.
‘O Vale de Gwangi’ ainda diverte pelo humor e pela curiosa mistura de western, ficção científica e horror. A obra chegou a ser exibida no Brasil na primeira metade da década de 1970..
A trupe é liderada por Tuck Kirby (James Franciscus), um trambiqueiro do show business aos moldes de Carl Denham. Quando o personagem se depara com Gwangi, um tiranossauro devorador de homens do mundo perdido, nasce a ideia de prender a criatura em cativeiro e levar como atração de picadeiro. O monstro, obviamente, escapa e inicia um rastro de destruição pelas ruas da cidade.
O diálogo entre com a obra de 1932 não é exatamente uma coincidência. O Vale de Gwangi foi originalmente concebido por Willis O’Brien, responsável por animar em stop motion a história do gorila da Ilha da Caveira. O roteiro e muitas artes conceituais do filme de 1969 foram produzidos ainda na década de 1940, quando seria financiado pela RKO.
As dificuldades técnicas envolvendo o projeto e problemas no financiamento fizeram com que a ideia fosse para a gaveta. O’Brien, então, foi trabalhar em Monstro de um Mundo Perdido (1949), que, ao seu modo, também era uma releitura de King Kong. O mesmo filme marca a estreia de Harryhausen em Hollywood, quando atuou como assistente nos efeitos especiais.
O’Brien morreu em 1962 e nunca chegou a ver o filme pronto. Harryhausen tirou o projeto do papel como uma homenagem ao mestre. Daí vem também as referências a Mundo Perdido (1925), marco do cinema fantástico e primeiro longa-metragem de monstros gigantes a contar com o trabalho do pioneiro da técnica de stop motion.
Sem histórico com o subgênero, O’Connely faz um trabalho muito eficaz na direção. Mesmo hoje, mais de 60 anos depois de estrear nas telas dos Estados Unidos, O Vale de Gwangi ainda diverte pelo humor e pela curiosa mistura de western, ficção científica e horror. A obra chegou a ser exibida no Brasil na primeira metade da década de 1970. Nunca saiu em mídia física, mas hoje está disponível para o público como parte do catálogo da plataforma de streaming nacional Darkflix.