Os quadros que aparecem na capa da edição do jornal Tribuna do Paraná, em 10 de julho de 1997, são cinematográficos. Uma explosão na fuselagem de um avião da TAM abriu um buraco que lançou um passageiro para fora da aeronave. Uma das sobreviventes descreveu que a cena toda “parecia um filme de horror”.
Escrevi há algumas semanas que o horrífico funciona como uma espécie de linguagem que pode ser frequentemente adotada por outros gêneros (leia mais). Como base no caso descrito no primeiro parágrafo, acho seguro afirmar que isso também ocorre com outros tipos de narrativas visuais, como o próprio Jornalismo.
A Tribuna do Paraná é um jornal fundado em 1956, por um jornalista chamado João Féder. Foi feita para ser um veículo regional de Curitiba. Com o passar dos anos, tornou-se um dos principais produtos da imprensa sensacionalista da região. Esse tipo de produção noticiosa é conhecida por dramatizar em excesso os fatos para arrancar reações do leitor. Por isso, costumam ser tão sangrentas e escandalosas. Vale lembrar que, assim como a comédia e a pornografia, o horror é um gênero que se caracteriza justamente pela busca de uma resposta emocional do público (leia mais).
Seto, que morreu em 2008, foi um dos principais nomes do quadrinho brasileiro.
Em meados dos anos 1990, o quadrinista paranaense Cláudio Seto era um dos responsáveis por atribuir mais emoção às narrativas da Tribuna. Entre maio e agosto de 1997, período que precisei investigar o jornal por causa do doutorado, o artista ilustrava praticamente uma capa a cada dois dias. A maior parte delas, ampliando o escopo horrífico da violência cotidiana.
Observe abaixo duas situações em que a expressão “terror” chega, inclusive, a ser adotada pela publicação paranaense. Em uma delas, a notícia de uma dona de casa que foi feita de refém e presa no porta-malas de seu carro. Na outra, a história de um assalto em um supermercado. Os traços do cartunista no rosto dos personagens reforçam o drama vivenciado por aquelas pessoas.
Seto, que morreu em 2008, foi um dos principais nomes do quadrinho brasileiro. É referenciado como um pioneiro na arte do mangá no país. Sua produção na Editora Grafipar, aqui de Curitiba, foi tema de exposição na primeira edição da Bienal de Quadrinhos. Seu trabalho como ilustrador de crimes e tragédias na Tribuna do Paraná, no entanto, é pouco lembrado.
Durante alguns anos, o artista criou pesadelos visuais para os leitores do jornal. Era na arte dele que os paranaenses podiam encontrar chaves de interpretação para a violência sem sentido do cotidiano. E ele não pegava leve nos retratos desses assustadores acontecimentos. Seus desenhos eram crus, apressados e violavam nossa própria noção de segurança. Eram, à sua maneira, pequenas histórias de horror.