Depois de praticamente criar o cinema kaiju com Godzilla (1954), o cineasta Ishiro Honda se afastou das criaturas gigantes durante quase dois anos. Nesse período, dedicou-se a ficções científicas menos ambiciosas e dramas familiares. O retorno ao gênero ocorreu com Rodan – O Monstro do Espaço (1956), fita que apresentou um dos personagens mais importantes do hall de monstros da Toho.
A ideia do projeto veio do produtor Tomoyuki Tanaka, que queria aproveitar o interesse do público pelos dois primeiros filmes do gigante radioativo no Japão. Segundo os biógrafos de Honda, Steve Ryfle e Ed Godziszewski, o ponto de partida era apresentar uma ameaça grandiosa que pudesse voar e, assim, evocar o medo de discos voadores presentes no imaginário popular desde o fim da década de 1940.
A adaptação para um pteranodonte vermelho veio na fase de escrita do roteiro, que teve contribuição do próprio diretor. Tal como Godzilla, a história começa com o desaparecimento de pessoas de um mesmo grupo – aqui, membros de uma equipe de mineração. Logo, descobre-se que as vítimas são atacadas por insetos gigantes, que lembram uma libélula sem asas.
Como o primeiro título colorido do universo kaiju da Toho, o cuidado com o visual foi redobrado. Rodan, embora apareça em quase uma dezena de outros filmes durante a Era Showa nunca esteve tão bem quanto na sua estreia.
A investigação do caso leva uma equipe de cientistas a um ninho gigante em que um ovo foi chocado. Durante boa parte da projeção, o público fica sem ver ou saber qual é o monstro que nasceu ali. Somente lá pela metade do filme é que Rodan aparece, primeiro como um vulto e depois como um dinossauro alado cujas passadas destroem pontes e carros e o bater de asas derruba prédios.
O foco inicial nos mineradores e nas cavernas escuras dá a Rodan – o Monstro do Espaço um clima bastante claustrofóbico. Ainda mais do que em Godzilla, Honda cria uma narrativa bem pautada pelo horror. Há corpos ensanguentados, ameaças que vivem pelas sombras e até um personagem que fica catatônico depois de encontrar o ninho do pteranodonte vermelho.
O dublê Haruo Nakajima veste a fantasia da criatura para as cenas em que ela desce sobre a cidade e duela com os militares. A equipe de efeitos especiais de Eiji Tsuburaya também usa marionetes, miniaturas e projeção de tela para dar vida ao monstro. Como o primeiro título colorido do universo kaiju da Toho, o cuidado com o visual foi redobrado. Rodan, embora apareça em quase uma dezena de outros filmes durante a Era Showa nunca esteve tão bem quanto na sua estreia.
A obra chegou ao Brasil em 1959, sem fazer muito alarde na imprensa. No ano seguinte, quando foi exibido em Pernambuco, o crítico de cinema Fernando Spencer afirmou que, em Rodan – o Monstro do Espaço, “encontramos, além de mau cinema, o exagero, a inverossimilhança e a falta de imaginação dos realizadores”. O texto, publicado no Diário de Pernambuco, ignorou que, para aproveitar um filme como o de Honda, é preciso deixar o imaginário livre para melhor apreciar a destruição de borracha criada por um fictício dinossauro voador gigante.
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