Barreiras de segurança costumam dar as caras com alguma frequência em narrativas de horror. Nos filmes de zumbi, servem como um elemento que separa os vivos dos mortos. Em King Kong (1933), isolam o monstruoso gorila da civilização. No parque dos dinossauros de Jurassic World (2015), salvam os visitantes das mandíbulas das criaturas pré-históricas. Enquanto recurso de roteiro, no entanto, o muro é sempre um caminho para a tragédia. Sua existência dentro da trama é um indício de sua própria ruína.
O milionário Donald Trump se elegeu para Presidente dos Estados Unidos com a promessa de que vai erguer um muro, de proporções espantosas (e imprecisas), na divisa com o México. A medida seria uma maneira de impedir a entrada de novos imigrantes ilegais ao país. O tema rendeu polêmicas, evidenciou a xenofobia do republicano e abriu caminho para conjecturas distópicas sobre o futuro do mundo.
Se a grotesca proposta, que ainda envolve obrigar os mexicanos a pagar a conta, fosse um artifício de um enredo de horror, o plano estaria condenado de início. O cineasta George Romero construiu toda filmografia em cima de questões fronteiriças. Na sua série sobre mortos-vivos, os humanos estão sempre protegidos entre cercas e paredes, que sempre se rompem no último ato do filme.
Em Despertar dos Mortos (1978), um grupo de sobreviventes de um apocalipse zumbi se isola em um shopping center e passa a viver um sonho vazio de consumismo. As barricadas armadas para conter as esfomeadas criaturas longe são derrubadas por motoqueiros que anseiam pelo bem estar e pela qualidade de vida alcançada pelos protagonistas. Se trocarmos a referência pelos latinos, a metáfora se mantém bem atual.
O filósofo norte-americano Francis Fukuyama diz que a queda do muro de Berlim representou a chegada de um consenso mundial pelo liberalismo ocidental como regime natural.
Na primeira parte da adaptação cinematográfica de Ataque dos Titãs (2015), de Shinji Higuchi, os colossais seres carnívoros do título conseguem fazer um buraco em um dos muros que os separa da humanidade. O fato provoca a morte de milhares de pessoas, que se isolam entre muros cada vez menores e mais restritos. No mangá, esses distritos internos são como a torre de Terra dos Mortos (2005), habitada apenas pelos mais ricos e desejada pelos mais pobres.
O seriado The Walking Dead, inspirado por Romero, destrói um muro como clímax de praticamente todas as temporadas. Nesses momentos, muitos personagens secundários morrem enquanto protegem seus patrimônios e estilos de vida. Em Game of Thrones, a barreira que separa Westeros dos caminhantes brancos está condenada desde o piloto, quando apareceram a ameaça desconhecida dos caminhantes brancos.
O filósofo norte-americano Francis Fukuyama diz que a queda do muro de Berlim representou a chegada de um consenso mundial pelo liberalismo ocidental como regime natural. O encerramento da Guerra Fria daria início a um período novo, sem fronteiras claras entre heróis e vilões. Seria, ali, o fim da história.
A construção do muro de Trump é o começo da trama. Trata-se do momento em que o Indominus Rex é preso, cena que nem é mostrada ao espectador. A história que nos interessa é a de quando a construção se rompe e o discurso sobre segurança se mostra falacioso. No mundo real, porém, temo que a tragédia será perceber que nossos semelhantes foram tratados como monstros no meio do caminho.