O cineasta Chris Columbus escreveu o roteiro de Gremlins (1984) depois de ouvir um barulho durante a noite, provavelmente provocado por um camundongo em sua casa. Ele se lembrou das criaturas folclóricas que eram acusadas de sabotar os aviões britânicos na Segunda Guerra Mundial e já tinham servido de inspiração para o curta Falling Hare (1943), protagonizado pelo coelho Pernalonga.
Com produção de Steven Spielberg e direção de Joe Dante, Gremlins acabou se tornando um grande sucesso comercial. Deu início a um subgênero inteiro de obras com pequenos monstros. Ghoulies (1984), Criaturas (1986), Munchies (1987) e Hobgoblins (1988) são alguns dos títulos que surgiram na esteira do lançamento da produção de 1984.
O conceito desses filmes é basicamente o mesmo concebido por Columbus. Os mini monstrengos infernizam um grupo de pessoas – que geralmente vive em uma pequena cidade ou está isolado em algum ambiente fechado – e depois são derrotados. Em cada uma dessas obras, há a presença de humor e horror.
Enquanto seres humanos, somos seres dominantes do ambiente em que vivemos. Ainda assim, estamos sempre amedrontados por pequenas criaturas vivas, como cobras, aranhas e baratas.
Tal subgênero não era exatamente novo quando Gremlins chegou aos cinemas. Uma década antes, produções como Nasce um Monstro (1974) e Trilogia do Terror (1975), apresentaram criaturinhas como terríveis ameaças. A grande diferença para o ciclo de produção dos anos 80 talvez seja a gravidade da trama e a ausência de humor. Na primeira obra, um pai precisa lidar com a culpa de ter um filho mutante provocando uma onda de assassinatos na cidade em que vive. Na segunda, que é uma antologia, uma mulher enfrenta um boneco que carrega o violento espírito de um guerreiro zuni.
Se considerarmos que todo filme com brinquedo assassino é, em alguma medida, uma produção de mini monstro, há produções do subgênero espalhadas por diferentes décadas, como Devil Doll (1964), Brinquedos Diabólicos (1992) e O Filho de Chucky (2004). Em comum, essas produções são geralmente bancadas com baixo orçamento e adquirem valor de produção nos efeitos visuais. Até no Brasil temos longas-metragens que se encaixam nesse perfil, como a antologia gaúcha A Maldição do Sanguanel (2014), de Felipe M. Guerra, Eliseu Demari, Rafael Giovanella e Ricardo Ghiorzi.
O produtor Charles Band ficou famoso por financiar títulos com pequenas criaturas como Troll – O Mundo do Espanto (1986), Bonecas Macabras (1987) e Imp – O Invasor do Espaço (1988) durante os anos 80. Quando sua companhia Empire Pictures faliu, ele criou a Full Moon Features e passou a investir fortemente no subgênero – criando um verdadeiro filão com sua extensa franquia de Bonecos da Morte (1989).
Existe, na essência dessas narrativas, uma ironia com nossos medos primitivos. Enquanto seres humanos, somos seres dominantes do ambiente em que vivemos. Ainda assim, estamos sempre amedrontados por pequenas criaturas vivas, como cobras, aranhas e baratas. A ideia de ser atacado por uma coisa tão pequena nos assusta. A ponto de imaginarmos que qualquer barulho na cozinha pode ser uma ratazana faminta. Não por acaso, essa foi a inspiração de Columbus para o roteiro de Gremlins.
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Desde o ano passado, há um desafio no twitter chamado #maiodeminimonstros, em que criamos uma lista de obras variadas que tenham pequenos monstros como vilões. Este ano, a ação é organizada pelo site Filme C e pelos podcasts Hora do Espanto, Necronomiconversa e República do Medo.