Em 2012, o cineasta curitibano Paulo Biscaia Filho participou do New Orleans Film Festival, onde exibiu o divertido Nervo Craniano Zero. Por lá, em uma reunião de produtores, conheceu Gary McClain Gannaway, um professor de inglês aposentado que resolveu tentar a chance como roteirista de cinema. Os dois saíram para conversar e dali nasceu a ideia de produzirem um filme juntos, inteiramente rodado nos Estados Unidos. O resultado dessa parceria, Virgens Acorrentadas (2018), chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 9 de agosto.
A produção conta uma história metalinguística sobre um grupo de amigos que decide fazer uma fita de horror sem qualquer tipo de recurso. Depois de encontrar a equipe certa e rodar a maior parte do projeto, os personagens vão para uma casa isolada de campo, onde encontram uma família de assassinos e a realidade e a ficção se misturam.
A trama e os bastidores de Virgens Acorrentadas são meio coincidentes. Quando decidiu tirar seu roteiro do papel, Gannaway tinha pouco mais do que a confirmação do diretor paranaense. Seu primeiro roteiro, Creature from the Blood Canal, custaria caro demais para ser rodado. Por isso, desenvolveu um enredo mais barato. Quando terminou, fez campanhas de financiamento coletivo e foi de porta em porta atrás de investidores. “Conseguir o dinheiro foi a parte mais difícil”, disse ele durante o festival Grotesc-O-Vision, de Curitiba, em 2017. O roteirista evita entrar em detalhes sobre o valor final da obra, mas garante que ele fica abaixo dos US$ 200 mil. “Em Hollywood, seria considerado um orçamento ultra-baixo”, brinca.
As filmagens ocorreram em 2016, durante 18 dias. Na época, Biscaia Filho foi até Austin, no Texas, para rodar a história. Algumas cenas adicionais foram feitas no Brasil, com atores da Vigor Mortis, a companhia de teatro e de vídeo do cineasta. “Gary brincava que teria que me creditar como corroteirista, porque fiz várias interferências no roteiro para ter uma maior fluidez narrativa”, revelou em uma entrevista concedida para esta coluna no ano passado (leia mais).
O longa-metragem tem cenas de intestinos despejados pelo chão, decapitações e torturas. Não por acaso, os momentos mais sangrentos são os mais engraçados.
A atriz Kelsey Pribilski, que interpreta uma das protagonistas do filme, conta que o processo de filmagem foi bastante colaborativo. Um exemplo disso foi a chuva, que atrapalhou o cronograma da produção durante dois dias. “Foi bem difícil. Felizmente, nosso elenco e equipe técnica eram dedicados e as coisas deram certo e de um jeito bem divertido”. Um pouco da tempestade pode ser vista no filme, que usa planos de trovões para ajudar na ambientação.
Virgens Acorrentadas funciona como uma espécie de ode ao cinema independente de horror. A narrativa, além de dialogar com o próprio processo de construção de um filme (representando etapas como a da escrita, do financiamento e do casting), homenageia títulos de baixo orçamento que se tornaram celebrados. A referência mais óbvia talvez seja O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper, que parece ter inspirado todo terceiro ato. Há também menções diretas à obra de Herschell Gordon Lewis, cineasta que Gannaway diz que é uma grande influência para o projeto. “Enquanto eu crescia, lembro de ver Banquete de Sangue e Maníacos, de Lewis, o padrinho do Gore. Fiquei muito feliz de homenageá-lo com um clipe de The Wizard of Gore”.
O longa-metragem tem cenas de intestinos despejados pelo chão, decapitações e torturas. Não por acaso, os momentos mais sangrentos são os mais engraçados. Sem vergonha nenhuma, Biscaia Filho mostra na tela pedaços de um cadáver dentro de uma panela de sopa. A metalinguagem explica a falsidade dos adereços (e a incoerência na atitude de alguns personagens). Na cabine de imprensa em Curitiba, no dia 31 de julho, o diretor disse aos presentes que não deviam levar a trama muito a sério. O comentário é um pouco redundante, mas pode ajudar desavisados que estejam esperando outro tipo de entretenimento na exibição.