Os assuntos de política monetária internacional não são minha praia. Mas há algum tempo, passando em frente a tevê com um prato rumo ao meu filho caçula, dei um passo pra trás e voltei para ver uma distinta senhora grisalha que falava em francês com invejável desenvoltura a uma plateia de engravatados.
Era a advogada francesa Christine Lagarde, atual diretora-geral do FMI – a primeira mulher a ocupar esse cargo. Nas imagens que se seguiam, ela aparecia caminhando elegantemente perseguida pelas câmeras, dizendo algo sobre a zona do euro.
Aquele visual me passou a mensagem de uma mulher refinada, carismática e digna, que tem na imagem a sua força motriz. Cabelos naturais, bronzeado em dia, nenhum sinal de tratamento invasivo na face, Christine Lagarde tem porte atlético (foi nadadora) e parece não sofrer com a pressão do dress code do poder.
Faz uma interpretação original dos códigos da indumentária contemporânea e simboliza como nenhuma outra o empoderamento da mulher madura. Este ano ela completa 60.
Ao longo de sua carreira pública, que começou no ministério francês, Lagarde tem lançado mão de lenços para adicionar um toque distinto ao uniforme político. Um acessório que, segundo analistas, se tornou a sua marca registrada.
Ao longo de sua carreira pública, que começou no ministério francês, Lagarde tem lançado mão de lenços para adicionar um toque distinto ao uniforme político.
Dependendo da cor, padrão, comprimento e como você o usa, um lenço pode ser burguês ou boêmio, sensível ou romântico, atemporal ou nostálgico. O uso inteligente deste acessório ambíguo e adaptável tem sido uma ferramenta poderosa para compor com as roupas de alfaiataria elegantes de Christine Lagarde.
Torcido, dobrado, enrolado em uma peça de vestuário ou mesmo entrelaçado com um colar de pérolas, Lagarde encontra inúmeras maneiras para enfatizar a sua individualidade através de lenços. Com esse artifício, ela tem sido capaz de sugerir sutilmente um lado não conformista em sua personalidade e, quem sabe até, em suas crenças políticas.
Por outro lado, as roupas escolhidas por Lagarde são totalmente apropriadas para a idade – uma regra fundamental na esfera política. Sua estratégia, obviamente, não é quebrar tabus. Em vez disso, ela acrescenta um floreio de humanidade, feminilidade e personalidade com um guarda-roupa geralmente monocromático, com peças clássicas (não necessariamente tailleurs) excepcionalmente bem escolhidas, arrematadas com lenços estampados, pashiminas ou laços de fita.
Nacionalismo caro
O estilo de Lagarde revela o papel que a nacionalidade pode ter nas relações políticas. Sua França natal é o berço de grifes como Hermès e Chanel, vistas tanto como símbolos do patrimônio e bom gosto, quanto como sinais do lifestyle de luxo.
Sua predileção por joias pesadas, enfeites metálicos e bolsas caras como sua inseparável Hermès Birkin não passam desapercebidas, nem dos admiradores, nem dos críticos.
Para alguns, a impressão de que ela está exibindo seu status de elite é confirmada pelas marcas que usa. Os comentários em sua página oficial do Facebook revelam que o guarda-roupa de Lagarde é uma evidência para alguns de um desprezo para com as pessoas comuns em tempos difíceis.
Muitas destas vozes são de países impactados por medidas de austeridade introduzidas através do FMI. Relatos de que seu salário é maior do que o presidente Obama e é, ao contrário dele, livre de imposto ao abrigo da Convenção de Viena, não têm ajudado o assunto. No entanto, ela também já mostrou que pode usar grifes mais acessíveis com o mesmo brilho. Uma sacada que Michele Obama (para citar novamente os mandatários americanos) domina com maestria.
Acima de tudo o que é dito sobre o dinheiro que gasta em roupas ou as políticas que ela dita no FMI, há um consenso crescente de que Christine Lagarde é um ícone de estilo. Isso já foi percebido há alguns anos pela Vogue e outras revistas que nunca a esquecem das listas das mais bem vestidas. A outra lista em que ela é habitué é a das 100 mulheres mais poderosas do mundo feita revista Forbes.
Enquanto estiver à frente do FMI – seu mandato de cinco anos foi recentemente renovado – os protocolos do cargo continuarão expondo sua imagem e deixando seu estilo nada óbvio à mercê do interesse público. Muito provavelmente porque ainda causa espanto e admiração que uma mulher com tanto poder não tenha deixado de lado a feminilidade, a essência e uma aparentemente não calculada dose de sedução.
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