A crise pode abater o bolso, mas quando o negócio é moda não pode abater a mente. Dizem que em tempos bicudos a criatividade é um diferencial. Imagino o desafio de quem vive dela diariamente. O ano de 2016 foi de efervescência na moda local a despeito do cenário econômico e da reorganização que o consumo sofreu. Por onde se olha, novas marcas, coletivos, lojas-conceito, espaços colaborativos, feiras, publicações, sites… Algumas baixas, é verdade. Não é fácil se manter em pé diante de tantos desafios, mas algumas iniciativas mostram que a vitalidade do negócio está em se adaptar aos novos conceitos.
Num imóvel antigo do Centro Histórico de Curitiba o letreiro NovoLouvre desafia a imaginação. Será uma galeria? Uma loja? Café? Ateliê? Atualmente um pouco de tudo: um QG resistente do que podemos chamar de moda local criado pelas irmãs Mariah e Paula Salomão há quase uma década.
NovoLouvre: um QG resistente do que podemos chamar de moda local criado pelas irmãs Mariah e Paula Salomão há quase uma década.
A trajetória da marca de roupa feminina curitibana NovoLouvre – o nome é uma homenagem à loja de tecido Louvre, que era da família que funcionava no local – se baseou desde o início intuitivamente na construção de uma estética própria, que extrai da cidade de Curitiba e da arquitetura a inspiração para sua identidade visual. A primeira centelha do que seria a grife foi o café inaugurado em 2007 que oferecia entre um macchiato e outro marcas alternativas de peso ao público. Arquiteta de formação, apaixonada pela urbe, com o tempo Mariah passou a desenvolver algumas peças com modelagem simples, baseada em camisetas. Nessa época nasceu a famosa tag “Feita no Centro Histórico de Curitiba” que acompanha cada peça.
A roupa agradou a clientela e começou a vender mais que as marcas conhecidas. O conceito de slow fashion ainda não era difundido, mas a possibilidade de produzir peças exclusivas, com mão de obra local e em pequena quantidade cativou a sensibilidade inventiva da arquiteta. Mesmo sem coleções formatadas, a NovoLouvre passou a frequentar eventos de moda já com apenas Mariah no comando. O sucesso comercial ainda não havia chegado, mas o de público era indiscutível. Ela se embrenhou pelo caminho do autodidatismo tanto para o processo da roupa quanto para aprender do negócio – nascia uma estilista-empresária especializada em colocar a mão na massa em todas as etapas.
Aos poucos a modelagem foi se sofisticando e a marca conseguiu encontrar o equilíbrio entre o detalhe e a simplicidade que a acompanha até hoje. Em 2012 a grife passou a frequentar os showrooms destinados ao atacado e abriu pontos de venda no Brasil e, mais tarde, no exterior, elaborando com mais ênfase o made in Curitiba. É preciso ser local para ser universal. “Temos como princípio e objetivo levar a cidade de Curitiba e o melhor de seu design para o mundo. Espalhar uma ideia, um anseio, um MODO”, escreve Mariah em uma espécie de manifesto.
O novo site da marca lança a pergunta: “Onde está o NovoLouvre”?, atendendo a uma autocobrança da própria Mariah em estar sempre se (re)posicionando. Em 2016, o luxo alternativo do NovoLouvre se estabeleceu por seis meses em uma loja-conceito no Pátio Batel, um laboratório para o projeto de franquia, que reverberou em um aumento na base de clientes.
Passada a fase shopping, com energia vital renovada pelo espírito jovem e novos desafios, a marca completa 10 anos em 2017. O ateliê da Trajano Reis volta com força total e hospeda neste domingo (11 de novembro) mais uma Tra.Ja.Nar, espécie de bazar que reúne artistas e marcas com música, comida, bebida e grandes descontos. É uma reabertura simbólica para firmar a proposta de espaço de convívio, troca de ideias e colaborações.
Será o momento em que o NovoLouvre apresentará ao público a segunda geração das Novas Gurias, espécie de embaixadoras que vestem e divulgam as roupas. Enquanto algumas marcas investem centenas de reais em blogueiras que parecem ter saído de um reprodutor de oompa-loompas da Fábrica de Chocolate, o NovoLouvre foi atrás de jovens autênticas, que estudam ou trabalham, vivem na cidade, andam a pé, de skate, têm contato com as diversas realidades.
A nova guria é confiante em sua capacidade de se colocar à frente de uma geração extremamente conectada e engajada nas causas do mundo, seja o feminismo, as questões de gênero, a natureza, a liberdade de escolha. Enfim, garotas que oferecem uma maior identificação com a consumidora da marca e coerência com o seu lifestyle. “Em tempos de Uber e Airbnb a gente quer vender além da roupa”, diz Mariah, que tem quebrado a cabeça para descobrir formas de monetizar o capital intangível conquistado nesses dez anos. Algumas coisas já estão definidas como oferecer cursos de estamparia digital e modelagem por meio da plataforma do site.
Confira o vídeo do making of de fotos da coleção em parceria com Evie Dee, digital influencer, dona de uma marca de cosméticos e uma das “Novas Gurias”:
NOVO FUCKING LOUVRE EVIE DEE / making ofO Making Of mais lindo de todos os tempos tá na tela. Estamos super ansiosos para apresentar a coleção criada em parceria com a Evie Dee. Juntamos a influencer e seus amigos para tomar um banho de sol com essas peças incríveis e produzir o material da campanha que chega nas redes nesta semana. Conseguiu flagrar um modelo favorito?
Produção ANGRYmag, beauty Thereza Maciel e cliques Lima Janis. Nos tiros: Évie Dee, Davi Von Giller Parisi, Myllena Dalla e Karol Queiroz.
Posted by NovoLouvre on Saturday, November 26, 2016