Não tem nem dois anos de idade mas, quando acorda, a pequena criatura já pergunta pelos brinquedos favoritos e sai do quarto resoluta, pronta para procurá-los. Ali perto da hora do almoço, quando já sabe que está chegando o momento de ir para a escola, ela desfia o rosário e recita o nome dos amiguinhos, como quem diz: “vamos, já não está na hora de ir? Ainda tenho que encarar esse prato de comida pela frente?”, mesmo ela, que é boa de garfo.
Em poucos meses – e principalmente depois do ingresso na vida escolar –, aqueles 80 cm de pedaço de gente que só falava mamãe e papai já construiu um círculo de convívio e exige e clama por esse contato. Ainda chama muito (muito) pelo pai e pela mãe, mas já não somos as únicas referências e nem sempre somos as principais.
Cada caso é um caso e toda decisão de mandar os filhos para escola ou deixá-los com um cuidador serão feitas com base em uma conjuntura única.
Eu já tinha ouvido falar sobre esse momento de separação, de cortar um dos cordões umbilicais que criamos com os filhos ao longo da vida (há o cordão real, físico, e há muitos mais metafóricos), sabia que chegaria e, confesso, não via vantagem em ser tão adorada e necessária para aquela pequena criança. Mas, é claro, não imaginava que viria tão rapidamente.
Não me sinto mal quando a filha clama pela avó, por alguns dos primos ou pelos coleguinhas da escola. Me surpreende e me encanta vê-la falar palavras diferentes ou fazer novas ações, mais complexas, que não aprendeu dentro de casa. Quero acompanhar, quero saber, me interessa e me deleita vê-la em contato com o mundo, com o diferente. Diversidade é essencial.
Temo que esse contato um dia a traumatize ou machuque? Sim, é claro. E isso é inevitável. Mas ainda não caí na armadilha do meu próprio ego (e um dia cairei, muito provavelmente) de que eu ou o que está restrito aos quatro cantos do nosso lar bastará à prole. Prefiro correr o risco e, atualmente, lidar com a ampla gama de vírus e outras criaturas microscópicas que vem da rua junto com ela do que encerrá-la sob os meus olhares.
Não há fórmula ou escolha melhor a ser feita. Cada caso é um caso e toda decisão de mandar os filhos para escola ou deixá-los com um cuidador serão feitas com base em uma conjuntura única. Mas por aqui, depois de passar os primeiros meses com a filha grudada no colo ou no peito, fosse para dormir, dar banho ou só passar o tempo à toa – e repetir esse apego e afeição agora, prontamente, sempre que solicitado – me sinto segura e tranquila de deixá-la voar um pouco sozinha, sabendo que logo volta, pedindo colo, para aqueles que reconhece como porto seguro.