Dia desses ralhei com o cachorro, que estava mexendo no lixo. Instantes depois, percebi que minha filha – no seu idioma peculiar – usava o mesmo tom de repreensão com o bichinho quando ele pegava um brinquedo dela. Ela me viu brigando com ele e repetiu. E funcionou naquela ocasião. É sempre assim. Para as coisas positivas e negativas. Esse aprendizado por imitação torna bebês e crianças seres únicos, em constante transformação.
Como o tema me interessa pessoalmente, fui atrás de referências nesse sentido e descobri o documentário francês Babies (2010), que tem direção de Thomas Balmès. O filme, de 80 minutos, mostra o cotidiano de quatro crianças ao redor do mundo, desde que nascem, até perto da data em que completam 1 ano. Foram 400 dias de filmagens nos EUA, Japão, Mongólia e Namíbia acompanhando o crescimento e a evolução das crianças. As cenas do documentário são ricas e tocantes.
Acredito que é um privilégio da nossa época poder entender que a infância é importante, é essencial e é uma semente dos adultos que teremos.
Não há falas, declarações ou narrador. Mas não é preciso mesmo de um idioma específico. A língua universal da infância é o aprendizado por “osmose”, repetindo o que vê e descobrindo por conta própria. As imagens expõem o que é o crescer de um jeito melhor do que qualquer explicação.

Embora as crianças acompanhadas pelo cineasta vivam em culturas bem diferentes – mais urbanas no Japão e EUA e mais ligadas à vida no campo na Namíbia e na Mongólia – percebemos que o jeito de aprender é o mesmo em qualquer ambiente. As crianças repetem, fazem, refazem, reclamam, erram, precisam de independência, precisam de uma comunidade, não precisam necessariamente de recursos muito elaborados.

Acredito que é um privilégio da nossa época poder entender que a infância é importante, é essencial e é uma semente dos adultos que teremos. Na era medieval, não havia um conceito ou entendimento de infância. Ao longo de muitos anos, as crianças eram tratadas como mini-adultos ou como adultos incompletos. Foi só a partir do século XVII que essa parte da vida passou ter a relevância no círculo familiar e, consequentemente, na sociedade.

Agora, até podemos nos perder num oceano de linhas de criação, livros, nomes de técnicas e “times de futebol” da criação dos filhos. Tem até quem rotule ou defenda uma ou outra mais que o necessário. Há quem afirme que as crianças são malévolas, há quem diga que são inteiramente angelicais. Acho que não são nem uma coisa nem outra: são seres que nascem ainda imaturos, que solicitam ajuda para suas necessidades e que aprendem no convívio social.
Embora eu reconheça a importância de buscar informação, acredito que se transformar em pai e mãe é acompanhar o crescimento dos filhos de uma forma talvez um pouco mais despretensiosa, assim como as filmagens do documentário Babies transparecem: apoiar, ajudar, ficar de olho, mas principalmente deixar que façam as coisas por si mesmos e deixar que se relacionem com o mundo à sua volta (com a natureza!!), uma vez que já os reconhecemos enquanto indivíduos verdadeiros.
Assista ao documentário “Babies” na íntegra
https://vimeo.com/67691334