“Mamãe, hoje já acabou o coronavírus?”

Nos incontáveis dias de uma suposta quarentena, onde estamos todos isolados, o trato com as crianças é algo peculiar.

Se antes iam à escola, socializavam, aprendiam… Agora aprendem e socializam em casa, com a família ou com pouca gente. As atividades cessaram, as festas, viagens, passeios. Tudo ficou restrito.

Embora os dados mostrem que a saúde das crianças é menos afetada pelo vírus, com certeza os efeitos psicológicos ficarão mais óbvios nelas.

E há já mais de 4 meses, todo dia escuto a pergunta: “mamãe, já acabou o coronavírus?” ou as terríveis variantes: “mamãe, podemos ir para a escola hoje?”, “posso ver minha amiga Janaína hoje?”, “mamãe, onde está a professora?”, “podemos ir para a praia?”, “quero ir no mercado junto com você!”.

Aprendi com minha mãe (que já foi professora de crianças pequenas como as minhas meninas) a fazer uma atividade simples: criar um texto em conjunto. Com um tema central ou sem ele, as duas crianças formam uma história.

Hoje, quem escreve aqui são elas e o tema do texto foi ele, é claro, o coronavírus:

“Quando coronavírus acabar;
Eu vou querer ir para o ballet;
Eu vou para a escola, para brincar;
Eu vou pular na casa da vovó Bel
Vou brincar de esconde-esconde na escola;

Porque estou com saudade da praia;
Ir até a casa do vovô Álvaro;
E ver TV na casa da dinda Elisa

Pular na cama elástica da escola;
A prof Eve vai cuidar de nós;
E vamos em uma festa de aniversário
O corona vírus é chato e talvez colorido;
Talvez ele seja verde;
Pequeno;
Mais pequeno que uma formiga
Mas eu vou continuar usando máscara e álcool em gel
Agora as pessoas estudam em casa;
Trabalham em casa;
Brincam em casa
O coronavírus é mau;
Ele não é mau! Ele é um germe, tadinho;
Ele deixa as pessoas doentes e ele é amigo do Bolsonaro”

Efeitos da pandemia nas crianças

Embora os dados mostrem que a saúde das crianças é menos afetada pelo vírus, com certeza os efeitos psicológicos ficarão mais óbvios nelas. “Duração prolongada, medo de infecção, frustração e tédio, informações inadequadas, falta de contato pessoal com colegas, amigos e professores, falta de espaço pessoal em casa e a perda financeira da família”, estão entre os principais fatores estressores da pandemia para as crianças.

Sem referência externa, os principais efeitos imediatos são a dependência extrema dos pais, agitação, desatenção, problemas no sono, pesadelos e desatenção. No futuro, haja terapia!