Talvez você nunca tenha parado para pensar nisso ou quem sabe sou eu que penso demais. Mas “gerenciar” os brinquedos da filhota tem sido uma das tarefas mais desafiadoras da maternidade. As crianças ganham muitos brinquedos. Brinquedos demais. Ganham brinquedos em todas as datas festivas, herdam brinquedos de outras crianças, ganham brinquedos porque são lindas, fofinhas e sorridentes.
Mas o quê fazer com essa infinidade de pequenos objetos coloridos?
É mesmo uma delícia dar brinquedo de presente para criança. Vê-las se divertindo com objeto escolhido (ou preparado) com tanto carinho é sensacional. Não acho errado e não quero, de forma alguma, criminalizar a prática. No entanto, do ponto de vista de mãe (que até hoje comprou apenas um brinquedo para a filha mas que não sabe o que fazer com tudo que ela ganha), parece-me necessário rever o ato corriqueiro.
Desde outubro – com o dia das crianças – até agora, quando chegamos em dezembro (“então é Natal e o quê você fez!?”) tenho me questionado o quanto é insustentável essa prática (de crianças receberam milhões de brinquedos, tantos que até algumas casas de passagem e entidades que recebem crianças em situação de vulnerabilidade também já não recebem doações, porque há muitos brinquedos em todos os lugares); o quanto isso é benéfico para as crianças (aqui fazemos um rodízio mensal com alguns itens, mas MUITA coisa já foi pra doação) já que elas, em geral, se divertem mais com outras coisas (tampas, potes, frutas ou qualquer utensílio da vida prática) e não prestam atenção em tudo que têm.
Essas datas tendem a nos levar ao consumismo desenfreado, armários abarrotados e, no fim das contas, uma sensação de vazio que contrasta com o número de coisas que temos na frente, mas que, em geral, combina com a conta bancária.
Curiosamente, o brinquedo preferido da minha filha (que ainda não chegou na fase de, de verdade, escolher ou querer brinquedos) é uma boneca antiga, que foi dada de presente por uma amiga. Esse tipo de brinquedo, com história e com carinho, que gera apego, importa mais que a quantidade ou que o último lançamento tecnológico.
Deparo-me então com a dúvida cruel: o que devo ensinar para as filhotas na data mais comercial do ano, que está tão próxima?! Por aqui, já pensamos em contar logo de uma vez que o Papai Noel não existe, que não tem essa de saco de brinquedos e que o momento servirá para compartilhar o que temos. Já pensamos em adotar o ritual da doação ou da confecção dos próprios presentes. Já pensamos em avisar os parentes sobre como essas datas tendem a nos levar ao consumismo desenfreado, armários abarrotados e, no fim das contas, uma sensação de vazio que contrasta com o número de coisas que temos na frente, mas que, em geral, combina com a conta bancária.
É complexo adotar uma sistemática diferente daquela que para qual a cultura ocidental do século XXI nos empurra: como explicar nosso ponto de vista, como pedir para não dar presentes aos filhos (“mas noooossa, que chatos, era só um agradinho”), como mudar a prática tão corriqueira, como fazer despertar esse questionamento em outras pessoas? Não temos respostas prontas nem persistência para adotar uma postura mais “durona”, por enquanto. Por ora, a filha pequena que não pede brinquedos vai fazer uma doação – pretendemos repetir essa história muitas vezes – e o afilhado vai ganhar um chocotone feito em casa.