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1º Slam Resistência Surda: entrevista com Gabriela Grigolom Silva, poetisa e organizadora

porMichel Urânia
24 de maio de 2018
em Zero Pila
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No próximo sábado, 26 de Maio, acontece o 10º Slam Contrataque e o 1º Slam Resistência Surda. O Slam Contrataque é uma batalha de poesias que acontece na Praça do Cavalo Babão, no Centro Histórico de Curitiba. São encontros mensais com “objetivo de ser um espaço de resistência e protesto, um meio de dar voz a todos oprimidos e todas oprimidas, através da poesia”, diz a apresentação do evento no Facebook.

O slam poetry, “batida de poesia” na tradução literal do inglês, é o nome que originou o modelo do evento, popular em várias partes do mundo. Cada poeta ou poetisa tem até três minutos para uma apresentação com voz e corpo, não sendo permitida a utilização de instrumentos, músicas gravadas ou objetos. As poesias podem ser lidas, decoradas ou de improviso. O julgamento é feito pelo público.

Em uma das últimas edições da versão curitibana do Slam, a poesia sinalizada por Gabriela Grigolom Silva e traduzida simultaneamente ao português oral por Jonatas Medeiros chamou a atenção. O vídeo da apresentação foi visto na internet por mais de 50 mil pessoas nas semanas seguintes. Na poesia, entre metáforas e casos concretos, ela expõe as dificuldades para se comunicar com o excludente mundo oralizado. Apesar das dificuldades, Gabriela mostra-se empoderada, enfrentando as opressões de cabeça erguida.

Motivada pelo sucesso da apresentação, ela agora organiza um evento que acontecerá em conjunto com o 10º Slam Contrataque, o 1º Slam Resistência Surda. Convidei Gabriela para uma entrevista, mas antes é necessária uma introdução para nós, ouvintes.

Apesar de ser reconhecida como língua oficial do Brasil desde 2002, a LIBRAS (Língua Brasileiras de Sinais) segue pouco difundida, fruto da ainda persistente repressão às linguagens de sinais no mundo todo. Frequentemente, os surdos são submetidos a processos de “oralidade, leitura labial, implante coclear e etc. São subjugados, porque os surdos socialmente não estão no discurso da diferença linguística e cultural, mas sim no discurso da deficiência, o sujeito em geral é reduzido à uma orelha defeituosa”, disse Jonatas Medeiros, Tradutor Intérprete de Libras e acadêmico em Letras Libras na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O intérprete Rhaul Lemos e a poetisa Gabriela Grigolom Silva
O intérprete Rhaul Lemos e a poetisa Gabriela Grigolom Silva. Imagem: Felipa Pinheiro.

A língua de sinais é vista com tolerância na arte e na educação, cercada pelo “discurso da benevolência, da caridade, do exótico e da ‘inclusão’, com o discurso hegemônico de que há um ‘estabelecido’ e um ‘outsider‘ a ser incluso”, acrescenta Jonatas. É claro que existem bons agouros, mas não podemos esquecer da memória histórica que ainda não se foi, como as “tecnologias de ‘cura auditiva’, ou a tão celebrada ‘inclusão educacional’, que vem fragmentado as comunidades surdas, alocado a criança surda com um intérprete de libras como se isso fosse suficiente, sem currículo modificado, sem professores qualificados”, conclui.

Enviei as perguntas para Gabriela por e-mail, com cópia para os intérpretes e amigos dela, Rhaul Lemos e Jonatas Medeiros, que intermediaram a entrevista. Aos três, meu profundo agradecimento. Eles ainda pontuaram que são mais amigos da Gabriela do que intérpretes dela. “Nós somos tradutores profissionais, e embora envolvidos com a arte e a literatura surda, é muito desejável que a Gabi tenha uma intérprete mulher negra que acompanhe o discurso dela. A gente acredita que esse espaço de atuação na tradução deva corresponder aos lugares de fala também”.

ESCOTILHA » Gabriela, conte um pouco sobre você e como a arte e a poesia entraram na sua vida.

GABRIELA » Sou Gabriela Grigolom Silva, tenho 28 anos, solteira, e tenho dois filhos CODA (Children of Deaf Adults, ou filhos de adultos surdos, em tradução literal do inglês). Sou filha de  Sandra Mara Grigolom, professora de artes visuais, e de Mário José Silva, músico, que me influenciou muito. Acredito que meus pais foram minha grande inspiração como artista, “peguei” deles, com as mãos, o tato pra arte. Desde pequena ia ao teatro com minha mãe, e sempre acompanhava meu pai em suas músicas. Quando era pequena, eu ia sem entender, mas aos poucos fui compreendendo que o teatro e a arte não eram meu espaço. Hoje em dia, vou poucas vezes ao teatro, não é um espaço que os surdos conhecem. Quando me convidam e dizem que tem Libras, logicamente eu vou. Aqui em Curitiba há poucas peças com Libras, conheço os trabalhos da minha amiga Rafaela Hoebel e do intérprete Jonatas, a Chris Gomes e a TILS (Tradutora Intérprete de Línguas de Sinais) Helena Portela. Isso começou faz pouco tempo, talvez em 2014, veja só, que atraso. Claro que temos nossas poetizas surdas de Curitiba, Rozani Suzin, surda-cega, tem lindas mãos leves, mas infelizmente vejo pouco movimento artístico com Libras nessa cidade. No ano passado, eu adorei ter participado de um teste para uma peça de teatro que teria em palco uma atriz surda e outra ouvinte, uma proposta bilíngue da Cia Flutissonante. Não passei, mas eu fiquei na vontade de me envolver mais com a arte. Eu tenho pouco estudo sobre poesia, pois, quando leio em português, acho muito difícil e entendo pouco. Faço minha poesia visual, cheia de imagem, cheia de realidade.

Na minha necessidade de crescer, resolvi procurar na UFPR algum grupo de estudos Feministas, porque eu sei o quanto é importante para as mulheres surdas terem esse conhecimento, mas não é fácil ser uma mulher surda sozinha no movimento Feminista em Curitiba. Não é fácil ser uma primeira a ocupar um espaço, seja qual for. Ano passado, formei-me como Promotora Legal Popular. Grata à Lidiane, que se voluntariou a interpretar para mim, mesmo sendo intérprete iniciante se esforçou muito para fazer a ponte nas aulas. Fiquei sabendo agora de duas surdas que participaram da formação em Promotoria Legal nesse ano de 2018, estou pra lá de feliz com isso! Agora, quero apresentar poesia em Libras pra movimentar surdos e ouvintes.

‘Estamos em 2018 e tem lei de Língua de Sinais, mas as paredes são enormes, e todas paredes falam com bocas exageradas, rótulos que os ouvintes insistem em colocar no meu corpo surdo.’

O que a poesia surda significa pra você?

Nasci surda profunda, meu mundo é visual. Minha poesia surda é visual. Sofri muito por causa do oralismo, sofri muito porque a língua de sinais sempre foi proibida. Perdi muita coisa nessa loucura de ter que aprender a copiar a fala dos ouvintes. Quando se proíbe a língua de sinais, tudo trava. Eu fui entender o que era uma palavra em português quando tinha 9 anos, e só porque eu estava aprendendo língua de sinais. Atrasada, eu fiquei atrasada! Minhas mãos são minha comunicação, eu falo tudo direto em língua de sinais e, imagine só, isso já foi proibido. Mundo atrasado! Proibiram a Língua de Sinais, caramba. Proibiram com a máscara social da leitura labial. Estamos em 2018 e tem lei de Língua de Sinais, mas as paredes são enormes, e todas paredes falam com bocas exageradas, rótulos que os ouvintes insistem em colocar no meu corpo surdo. Algumas coisas boas, mas muitas farsas nesse discurso de inclusão. Sem dúvida a poesia tem um papel importante, ela tem muito a mostrar para a sociedade, ela quebra, denuncia e aflora o que sinto na pele. A poesia é um “acorda”. É uma mão brava para falar dos direitos dos surdos em usar, produzir, estudar, acessar espaços públicos podendo utilizar a língua de sinais. A poesia surda está na resistência.

Indiferente de ideologias, o Brasil vive um turbulento período político. Como esse momento é para você?

Essa reflexão é difícil. Sinto muita gente perdida, e a falta de informação circulando nas mídias em libras restringem os surdos a terem acesso ao que acontece. Me restringe! É tudo muito rápido, flashes… para muitos surdos, há um aprisionamento involuntário de quase tudo que circula na mídia. O acesso pela língua portuguesa escrita é restrito e não chega a compreensão de muitos surdos, e isso é outra história, não dos surdos, mas dos ouvintes. Eu vejo esse momento pesado, escuro, com poucas cores, boca seca e peito entalado. Não sei falar sobre isso.

Na sua poesia apresentada no último Slam Contrataque, você falou sobre a tripla opressão que vive na sociedade, como mulher, negra e surda. Você imagina que a cultura surda pode influenciar, para ouvintes e surdos, a sociedade para melhor?

O público atento, a poetisa Gabriela e o intérprete Jonatas, de costas
O público atento, a poetisa Gabriela e o intérprete Jonatas, de costas. Imagem: Divulgação.

Eu tava criando coragem pra participar do Slam, então fiz inscrição online para o 8° Slam Contrataque. Eu procurei o intérprete Jonatas, que, por coincidência, ao mesmo tempo estava me procurando, porque a organização do evento entrara em contato com ele (risos). O Jonatas procurou o intérprete Rhaul e nós três trabalhamos algumas tardes juntos. Eu não tinha exatamente um poema em mente, estruturado, com começo meio e fim. Eu tinha várias cenas, várias descrições com classificadores em libras, um pouquinho de Vernacular Visual, minha história, meu gênero, minha cor, minhas mãos.

Eu sinto na pele o que é ser mulher, surda e negra. Os movimentos são muito fechados. Fechados para surdos, negros, gays, pessoas com deficiência, pessoas trans, etc. É necessário uma abertura para reconhecer surdas negras, surdas trans, surdo-cegos gays e tantas outras identidades. Somar movimentos, somar identidades, somar. A cultura surda é simpática e receptiva, tem costumes, complexidades, cultura popular de gerações. Mistura-se com outras culturas também, naturalmente. Mas é principalmente visual, contada com as mãos, pelo corpo surdo.

Aqui em Curitiba, a Rosani Suzim, Surda-Cega, é nossa primeira poetisa surda militante. Foi diretora da Feneis-PR e hoje luta na militância dos surdos cegos de todo o Brasil. No Brasil, temos artistas surdos no teatro e na poesia, como Edinho Santos, Léo Castilho, TILS Érika junto com eles. Em São Paulo, há muita arte surda, vejo muitos elogios dos surdos para a arte em São Paulo, muita gente envolvida, muita dança com vibração no corpo, muitas mãos, muitos lugares que acontecem. Curitiba é parada. É importante influenciar a sociedade ouvinte, sinto que se os ouvintes aceitaram conviver juntos com os surdos, reconhecendo a singularidade do surdo e a nossa língua de sinais, o futuro “sempre” pode ser melhor. 

Isso fez parte da sua intenção de apresentar sua poesia para um público de ouvintes?

Ouvintes são maioria e no geral são desinformados sobre os surdos. Cheio de mitos. Há poucos ouvintes amigos, há alguns aliados, como familiares aliados, professores aliados, intérpretes aliados, etc., e muitos ouvintes colonizadores. Não tem Libras em nenhum lugar, na escola, médico, polícia (190 e 0800’s, como eu, surda, posso proceder?), bombeiro, fábricas, teatro. Lista é infinita. É só você, ouvinte, pensar. Qual foi a última vez que você viu algo com Libras?

Haverá “alívio” só quando diminuírem as limitações nos lugares que citei. E não é porque tem pouco surdo, há pouco empatia. Resistência para mudar isso não pode ser uma opção. Eu vou em lugares, com intérprete ou sem intérprete, conheço grupos do hip-hop, grupos afro de dança, etc. Acesso os costumes, as formas culturais, mas não os conteúdos político, ideológico e reflexivo, que ficam quebrados. Uso escrita – principalmente no celular (em segunda língua), gestos, mímicas, enfim. É muito cansativo. Óbvio que se comunicar diretamente em Libras seria muito melhor, mas esse é meu papel paciente para com os ouvintes, de ensinar aos poucos um “oi”, um “boa tarde”, algo muito processual, uma semente que ando plantando por onde passo. Uma semente que brota flores em mãos.

Nota da Gabriela:
Me sinto confortável em sinalizar, usar a Libras para expressar todas as minhas ideias, mas o português me trava, não chega, a relação é sempre conflituosa. Para esse texto, contei com a ajuda do meu amigo intérprete Jonatas para traduzir meus vídeos e rascunhos do português e também do meu amigo intérprete Rhaul Lemos para ler com carinho essa escrita pensando na minha sinalização.

Nota de tradução:
Esse texto foi construído a partir de um texto escrito em português de segunda língua, dois vídeos e conversa via Skype. As perguntas da entrevista foram enviadas por e-mail e traduzidas em língua de sinais pelo presente tradutor e em sequência enviados para a Gabriela. Ela, em contato por vídeo, respondeu sinalizando as perguntas e solicitou que eu anotasse algumas coisas importantes, pediu para que eu tivesse apreço com o português escrito. Em sequência, ela me mandou um texto em português (de segunda língua, mas com muitas informações já antes sinalizadas) pedindo para que eu usasse aquela sequência de ideias, assim, com o texto e os dois vídeos complementares da resposta, fiz um esqueleto do texto. No dia da escrita final, para encaminhar as respostas ao Michel, montei as informações pelo Googledocs compartilhados com a Gabriela. Por Skype, fui mostrando para ela o que havia traduzido e ela foi fazendo os complementos e alterações que achava necessárias, tudo mediado em língua de sinais.

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Tags: arte surdaEntrevistaGabriela Grigolom SilvaPoesiapoesia de ruapoesia surdaslamSlam ContrataqueSlam PoetrySlam Resistência SurdasurdaSurdez

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