Terminei esta semana de ler o livro de crônicas do Cristovão Tezza, A Máquina de Caminhar (Record, 192 p.). A curiosa leitura de 64 de suas crônicas escritas durante o período no jornal da Pedro Ivo serviu como um suspiro na alma deste cronista falsificado que vos escreve.
Parte disso se deu ao fato de que, mesmo que Tezza não saiba, temos muito em comum. Primeiro, tal qual ele cita um tanto de vezes em suas crônicas, a pequena quantidade de leitores. Sem dúvida que em meu caso os números são menores. Se o autor de O Filho Eterno tinha sempre algo variando entre 8 e 11, eu devo ficar entre 3 e 5, isso já contando a pessoa responsável pela edição do texto, diga-se. A segunda coisa que eu e Tezza temos em comum é o fato de termos nascido fora de Curitiba, porém, termos sido acolhidos pela vampirística cidade. Por último, nosso terceiro ponto em comum se chama Atlético Paranaense. Ele ama, eu detesto. E, ao assumir este fato, provavelmente eu perca alguns dos meus 3 a 5 leitores, inclusive ele, se, por milagre desta natureza maluca, for um de meus escassos leitores.
A crônica é realmente um desafio a quem se propõe a escrevê-la. Não tanto pela forma, mas muito pela temática. Caminhar por ruas em que você constantemente emite opiniões e, ainda assim, manter um certo distanciamento do perigo da sisudez editorial. Tezza cita isso em seu livro. Por isso, talvez este cronista falsificado deva um abraço ao jovem Cristovão, que, além das crônicas, compartilhou alguns ensinamentos.
Por isso, talvez este cronista falsificado deva um abraço ao jovem Cristovão, que, além das crônicas, compartilhou alguns ensinamentos.
Mas agora resta a imensa dificuldade de transmitir a ele o meu agradecimento por ajudar com as lombadas do bloqueio criativo ao mostrar que, sim, o cronista pode recorrer a inúmeros assuntos. Um dos motivos é que nunca, nunquinha, esbarrei com Tezza pelas ruas curitibanas. Sinceramente, isso é de uma pena terrível. Dalton é até compreensível, mas não ter encontrado um dos maiores autores brasileiros que vive em minha cidade? Ao mesmo tempo, faz-me pensar se já não nos encontramos por essas esquinas e eu não o reconheci. Sou bom com nomes, mas nem tanto com rostos.
Outro motivo que dificulta nosso encontro é o medo de todo cronista falsificado: ser descoberto. Veja só, cronistas falsificados como eu comandam suas colunas maquiando tudo para que o nobre leitor – no meu caso, entre 3 e 5 deles – nunca perceba que leu, leu, leu e, provavelmente, não saiu do lugar. É como o merengue ou a cobertura de glacê dos bolos, estão ali só para fazer número e estufar a barriga. Aí, os que não são fãs do tal truque do confeiteiro, ao retirarem a cobertura, notam que sobrou apenas e tão somente um insosso pão de ló. Talvez seja melhor continuar o encontrando apenas em suas obras. Não quero em minha lápide “Descoberto pão de ló por Cristovão Tezza”, ainda que soe pomposo.