Se me fosse incumbida a função de sintetizar a essência do paulistano, escolheria decerto esta frase. Sem dúvida alguma, o paulistano vive em um mundo à parte, repleto de concreto, emoção, frio e pulsação. A fumaça que cobre o céu de São Paulo também cobre seus sorrisos.
Deixe a esquerda livre.
Repetida à exaustão, podemos enxergar um mantra. Um reflexo da Revolução Industrial tardia nos trópicos. Passa um, passam muitos e não ouse interromper este ciclo. Assim como a própria cidade, passam por cima de você antes mesmo que terminem os degraus desta escada rolante. Cidade incessante e inconstante.
Deixe a esquerda livre.
O paulistano inaugurou um novo tipo de relação: a fast-food. Nela, os encontros são sucintos, rápidos, descartáveis. Você não conhece o chef e não te importa a procedência dos temperos desde que momentaneamente te satisfaçam. Tem a duração quiçá menor que a de uma subida na escada rolante e, assim como os degraus, os encontros nunca são os mesmos, nem com as mesmas pernas e nem com a mesma duração.
O paulistano inaugurou um novo tipo de relação: a fast-food. Nela, os encontros são sucintos, rápidos, descartáveis. Você não conhece o chef e não te importa a procedência dos temperos desde que momentaneamente te satisfaçam.
Deixe a esquerda livre.
Sit liberum sinistram, em latim. Seja qual for o idioma escolhido, o fato é que o paulistano que agora está ao seu lado, absorto em pensamentos, em refrões ou nos tons de cinza, está livre. Mas livre de quê? Somos pois livres quando nos proclamamos independentes das correntes das relações humanas? Ou somos agora reféns de uma sensação triste, amarga, gelada, de um hóspede indesejado chamado Solidão?
Deixe a esquerda livre.
Esta deveria ser a filosofia no trânsito de São Paulo. Imaginem a cena: Marginal Pinheiros, 17:30, livre do tráfego diário. Mais tempo para pais preencherem sua esquerda de brincadeiras com seus filhos. Mais jantares apaixonantes a luz de velas. Mais declarações de amor cafonas, porém, sinceras. Não confundamos pois, qual esquerda devemos deixar livre. No final do expediente, é o amor quem pede passagem.