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Home Crônicas Alejandro Mercado

Escrevendo sobre o Cícero

porAlejandro Mercado
21 de julho de 2017
em Alejandro Mercado
A A
"Escrevendo sobre o Cícero", crônica de Alejandro Mercado.

Imagem: Reprodução.

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Cícero observa o mundo queimando as retinas dos olhos ainda virgens. Sob sua perspectiva de mundo, não existe a presença de elementos que o possibilitem fazer uma divisão binária. Cícero tem poucas preocupações. Algumas estão ligadas à alimentação, outras ao sono. Há ainda as relacionadas ao afeto. Como a habilidade de formular frases ainda não foi desenvolvida, Cícero chora, às vezes de forma aguda, para se comunicar. A nós, adultos, com tantos anos de terra, cabe a missão do exercício de paciência, da calma, da empatia em esforçar-se em entendê-lo, compreendê-lo e aceitá-lo.

Cícero ainda não sabe que o pai escreve, muito menos sabe o que seja escrever; ou palavras, sejam elas boas ou más. Mas nos comunicamos, diariamente.

Na maior parte do tempo em que está acordado, Cícero nos olha curioso. Parece tentado a emitir algum som, a fazer alguma pergunta. Como lhe faltam palavras, ele apenas olha, compenetrado. De tão atento, ele mal pisca, tampouco emite sons. Por vezes chega a parecer até arisco, fugindo da humana necessidade de estar sob os olhos atentos dos demais. Com Cícero, não. Ele não admite. Não se trata, entretanto, de arrogância. Ele tem muito a conhecer e tanta coisa a lhe chamar a atenção. Opta, na maioria dos casos, pelo que lhe parece mais caloroso. Ou recíproco. Ele gosta que lhe queiram, ao menos assim parece quando as mãos em suas costas encontram-no no berço, aos prantos, e interrompem os “nhés” emitidos.

Desenvolvemos amizade e companheirismo de forma quase instantânea. Meu peito passou a lhe servir de refúgio, ainda que ele não tenha a dimensão das intempéries que as relações humanas causam no dia a dia. Não satisfeito, Cícero agarra um de meus dedos, geralmente o indicador. Não é uma força descomunal, muito menos pequena. Tem sempre a medida exata do aprofundamento de nossa relação afetiva. Nos amamos assim, de graça. Quando o dedo não é o suficiente, arranca alguns dos longos cabelos que cobrem minha cabeça. Não ligo, sempre ficam melhor em suas pequenas mãos.

Cícero ainda não sabe que o pai escreve, muito menos sabe o que seja escrever; ou palavras, sejam elas boas ou más. Mas nos comunicamos, diariamente. Também não sabe que o pai lhe direciona algumas palavras, no intervalo de alguns sopros no ar ou massagens em sua barriga. Vivo crente de que é necessário estabelecer estes diálogos agora, de compreendê-lo agora, aceitá-lo agora, na mesma medida em que ele, tão frágil neste mundo frio, já fez conosco.

Tags: CíceroCriaçãocriançasCrônicafamíliafilho

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