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Home Crônicas Alejandro Mercado

Meu primeiro contato com a morte

porAlejandro Mercado
11 de março de 2016
em Alejandro Mercado
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Meu primeiro contato com a morte

Imagem: Google Images.

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Acredito que nem tudo fica guardado na memória. A mente humana funciona mais como um disco rígido falho do que como um motor de carro novo. Mas apesar das lacunas, sejam causadas pela ausência natural do registro ou pelo tempo que pelo relógio passa, certos momentos são gravados na retina do tempo.

Dos curiosos e que vieram à mente nesta semana, está o meu primeiro contato com a morte. Quando pequeno, é verdadeiramente difícil compreender a gravidade do que está acontecendo ao seu redor. A sensação é como a de acordar de um longo sono no meio de uma festa. Sabemos que há barulho, há música, há pessoas, mas não temos muita certeza de como tudo isso aconteceu – ou porquê aconteceu.

No meu caso, o primeiro falecimento de que tenho lembrança ocorreu quando tinha 9 anos de idade. Morávamos em Campinas, interior de São Paulo, mas o restante da família, de ambos os lados, estava quilômetros distante de nós. Era um final de semana, e estávamos todos na sala de casa, uma residência já antiga da Rua Germânia, bairro do Castelo.

Nossa casa não era tão grande. A sala era seu maior cômodo, o que fazia com que a dividíssemos em ambientes, usando para isso um velho conjunto de sofá de cor cinza, daqueles que seu tecido se rompe com o passar dos anos. Desta forma, parte da sala ficava destinada ao uso da TV, enquanto a outra metade era utilizada como escritório.

Era relativamente comum que minha mãe levasse a mesa de passar roupas para lá, que, além de melhor iluminada, propiciava um momento em família. Neste dia específico, ficou registrado em minha memória o lugar que cada um de nós ocupava em casa. Meu pai ao computador, de costas para nós; minha mãe passando roupa, no meio da sala; minhas irmãs ao sofá, assistindo a Domingão do Faustão.

Neste instante, uma autocensura tomava conta do meu ser: como raios eu não consigo chorar se todas estas pessoas na minha frente estão desmoronando?

Compunha o ambiente da sala duas velhas poltronas de um conjunto de sofá antigo, do qual nos desfizemos de sua maior parte. Era em uma destas poltronas que eu estava sentado quando o telefone tocou. Nosso aparelho, um Gradiente branco de teclas pretas, meio amarelado pelo tempo, ficava entre a mesa do computador e a mesa de madeira de lei de meu pai, localizada ao centro do ambiente, disposta de tal maneira que fosse quase um móvel da realeza.

Meu pai foi o responsável por atender a chamada. Do outro lado, alguém informava o falecimento de dois de meus primos por parte de mãe, filhos de uma mesma tia, em um acidente de carro. Eu tive pouquíssimo tempo para raciocinar sobre o que se passava diante de mim. Olhava muito, tentava prestar atenção em tudo e, sem sucesso, adivinhar o que se falava ao telefone. Em prantos, minhas irmãs e minha mãe choravam, um misto de perplexidade e dor que quem já viu nunca esquece. Também notava a seriedade de meu pai, o que poderiam traduzir como frieza eu, hoje, acredito que fosse choque, mas só ele poderia confirmar.

Nos poucos minutos em que assistia às pessoas tentando digerir as informações que acabavam de receber, sentia-me envergonhado por não saber o que deveria fazer. De certo que não esperavam de mim nenhum tipo de reação, afinal, que poderia uma criança de 9 anos fazer naquele instante? Mas parecia que eu deveria chorar. Veja bem, meu primeiro confronto com a certeza absoluta e fria da vida (a morte) e eu tentando decifrar quais seriam meus passos.

Movido pelo ambiente, comecei a chorar, ou, na verdade, a esboçar um choro. Gritava, cobria minha cabeça e meus olhos, mas as lágrimas não vinham. Neste instante, uma autocensura tomava conta do meu ser: como raios eu não consigo chorar se todas estas pessoas na minha frente estão desmoronando? Minha mãe desliga o telefone e procura explicar a meu pai tudo que havia ocorrido. Ela sai e retorna com um copo com água e açúcar.

Nunca me esquecerei do gosto horrível. Não da água com açúcar, mas de minha perplexidade frente à situação, principalmente porque, passadas mais de duas décadas, eu ainda não sei reagir diante da morte de outra forma que não em silêncio, assistindo a tudo aquilo como se não estivesse realmente acontecendo.

Tags: Crônicaencarar a mortemorte

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