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Home Crônicas Alejandro Mercado

A Minolta do meu pai

porAlejandro Mercado
2 de outubro de 2015
em Alejandro Mercado
A A
"A Minolta do meu pai", crônica de Alejandro Mercado

Imagem: Reprodução.

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Fotografias antigas guardam muitas doses de saudosismo. Em alguns casos, carregam consigo, também, tristezas, mágoas e um certo rancor. Muito provavelmente seja este o motivo para que algumas pessoas guardem fotos de infância e juventude em gavetas sob forte proteção. Em casa, a relação com a fotografia sempre foi algo próximo. Também pudera, as relações entre fotógrafo, fotografados e fotografia eram diferentes. Não havia esta efemeridade de hoje. As câmeras não eram digitais, necessitavam de filmes fotográficos e, após capturadas, o rolo deveria ser revelado em um estúdio. Como não havia muita certeza do resultado – olhos fechados, chifrinhos de crianças, alguém olhando para o lado e tantas outras coisas eram comuns – o ato fotográfico era uma espécie de ritual.

Com cerca de quatro, cinco anos, chorei muito ao tirar uma fotografia, pois meu pai insistia que em um certo lugar a disposição da luz era melhor e permitiria um retrato mais artístico. Ele só não sabia que meu pé havia ficado estrategicamente posicionado sob um formigueiro, o que me custou algumas mordidas e umas lágrimas, rapidamente secadas na minha camisa Topper da seleção brasileira de 1982, aquela com a taça Jules Rimet no escudo, três estrelas verdes sobre ele e um ramo de café ao lado da taça – numa manobra ousada da CBF e da estatal Instituto Brasileiro do Café (IBC). O que três milhõezinhos de dólares não fazem, não é?

Papai tinha uma câmera Minolta, que à época eu pouco sabia se era boa, ruim ou chinfrim. Mas ficava fascinado com aquele corpo preto, robusto, finalizado com um aço escovado. Uma capa de couro preto a revestia, uma forma de proteger a lente do contato de dedos infantis, tais como os meus. O jogo ficava completo com um flash que, confesso, não me recordo de tê-lo visto sendo usado. Mas foi essa pequena máquina a responsável por boa parte dos registros feitos por minha família. Não que eu queira parecer demasiadamente saudosista, mas aquelas 12 ou 24 poses tinham lá seu charme. Para o bem ou para o mal, eram garantias de álbuns fotográficos que congelavam pequenos momentos, que não apenas não voltam, mas são esquecidos, afinal, a memória nos trai com o passar dos anos.

Sempre que chega o aniversário de alguma de minhas irmãs, rola um aperto no coração por não poder publicar uma foto antiga. Uma se achava feia, a outra também. Elogiá-las, bem, era motivo para ganhar um “ah, como você é falso, irmão”. Resultado: precisei aprender a compensar a ausência visual com um texto profundo e sincero. “Parabéns, muitos anos de vida. Saúde, paz e amor” para alguém da família sempre soou muito impessoal.

Eram garantias de álbuns fotográficos que congelavam pequenos momentos, que não apenas não voltam, mas são esquecidos, afinal, a memória nos trai com o passar dos anos.

Acabou que minha memória ficou com espaços vagos, um buraco que deveria ser preenchido com as lembranças dos aniversários das manas. Como sou o mais novo, caberiam a estas fotos o surgimento de registros sentimentais que nunca verdadeiramente vivenciei. Contudo, pouco vi dos aniversários delas, mesmo em fotos. Por sorte, as fotos juntas, nós três, estas eu tenho muitas. Guardo-as para mim, num acordo extraoficial que fiz com ambas de nunca as tornar públicas.

Nunca tive muitos problemas com meus registros. Gostava de vê-los e, em algumas ocasiões, roubá-los para um arquivo pessoal. Quase todas as cópias eram duplicadas, então imaginava que não dariam falta. As fotos eram guardadas em uma caixa, dessas de livros, sapatos – ok, não sei do que eram as caixas, mas isso é irrelevante para a história. Era um outro momento na vida de meus pais. Os parentes eram mais próximos, os amigos também. A família estava junta, crescendo, prosperando, sorrindo e chorando.

As dificuldades vividas entre os anos 1970 e início dos 1980, eu dificilmente me lembro, a não ser pelas histórias contadas, muitas delas entre fotos vistas, lidas com os olhos e os trechos de memória, que ainda tentam pregar peças em nossas verdades. No fim, construímos uma narrativa que nos importe, que faça sentido. Tristeza não é algo que fica bem em foto, mas vira história, para ser contada assim, para vocês – e para mim, oras.

Tags: CrônicafamíliaFotografiafotos

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