Tivemos algumas conversas ao longo dos últimos quase nove meses. A maioria delas no âmbito da imaginação, a casa fértil do improviso, da fé e da crença. Guardei muitas informações para compartilhar somente no momento em que estivermos verdadeiramente lado a lado. Também guardei as opiniões e impressões do mundo, uma maneira de não assustar quem ainda nem chegou.
Talvez, um dia, você tenha a curiosidade de saber as razões de colocar uma pessoa no mundo, um ambiente hostil, conservador e retrógrado. Eu, que já deixei algumas décadas para trás, nasci em um tempo que parece, cada vez mais, próximo do mesmo tempo que você sobe ao palco da vida, e ainda não obtive resposta à mesma pergunta. E assusta. Menos por mergulhar em um contexto totalmente diferente do atual e mais por saber que será preciso caminhar de mãos dadas em meio ao medo. Saio de mim para ser um tanto de ti. Mas me entenda, você é a força e a coragem em tempos em que a voz falha e as mãos parecem atadas.
Receber-te será um mecanismo de encontro comigo. Quando olhamos um pedaço de nós, encaramos o que estamos transmitindo ao mundo, em essência, em pensamento e ação.
Receber-te será um mecanismo de encontro comigo. Quando olhamos um pedaço de nós, encaramos o que estamos transmitindo ao mundo, em essência, em pensamento e ação. Cheguei a esta conclusão, um tanto óbvia admito, enquanto deslizo o ferro de passar por suas roupas, minúsculas, frágeis, macias, novas, ainda novatas neste lugar chamado Terra. E o cuidado com elas se estenderá a você.
Se, em geral, o mundo se pergunta o que eu espero de você, prefiro pensar no que você possa esperar de mim, pois de você aguardo que seja completo, capaz de viver a plenitude do que construirá ao longo dos teus dias, ciente de que, a mim, cabe lhe dar a tranquilidade para ser ninguém menos que você.
Um dia, quem sabe, leremos juntos estas mal traçadas linhas, rindo do que foi, mas ansiosos pelo que há por vir. Curiosamente, igual estou hoje. Até lá, sigo aprontando seus pertences, buscando forças para ser um de teus guias nesta vida repleta de ironias, onde mostrar-se vivo é nascer no choro para, em seguida, ser obrigado a engoli-lo.