Vivemos dias de quase-encontros. Dias em que a gente olha para o relógio e constata que o tempo passou e, mais que isso, que não há maneira de congelar um instante, perpetuar um momento. Só reside em nós a eternidade entre um pensamento e outro.
E até cada pensamento segue uma estrutura narrativa tão peculiar, tão padronizada, que logo você nota o fio condutor desta vida, estes quase-encontros. E há tanta verdade nisto que mesmo as relações nas sinapses, zonas ativas de contato entre uma terminação nervosa e outros neurônios – local próprio para a transmissão de sinais, logo informação – se dão à distância, através de uma fenda.
O intrigante nestas relações que convencionamos em travar nos nossos dia-a-dias é que estamos constantemente lado a lado. Encontramos produtos, encontramos a solidão, por vezes até o ódio, só não encontramos uns aos outros. E vivemos glamourizando estes quase-encontros com beleza, charme e esplendor. Às vezes nos damos um tapinha nas costas um do outro, mas apenas no intervalo em que nos esquecemos da nossa própria existência.
Encontramos produtos, encontramos a solidão, por vezes até o ódio, só não encontramos uns aos outros.
Neste modelo relacional, estabelecemos que nossos encontros nunca serão iguais e, por isso, não existem certezas e nem conversas. É tudo fugaz, no máximo entorpecente. Convencionamos nem a obrigatoriedade das mesmas pessoas. Desta forma, a marca indelével é a do quase.
Evitamos lidar com a dicotomia do eu-outro, aceitando que não nos encontraremos em festas, shoppings ou em qualquer vitrine de neon, a não ser num quase-encontro meramente casual, fortuito. E desta forma nos valemos das facilidades do caminho do desencontro.
Criamos óperas e trilhas sonoras para roteiros mentais tão elétricos, que chegamos ao ponto de, diante de nossa modernidade – ou de nossa inércia e acomodação –, nos envergonharmos pela humana necessidade de permanência. O ficar de quem verdadeiramente fica.
Talvez meu sonho de consumo seja uma virada de mesa, na qual os olhares que nos circundem sejam promissores, convidativos. Posso apenas afirmar com convicção: não saia por aí me procurando, há o risco de nos perdermos na multidão, mesmo que seja a tecnológica.
Se porventura estivermos destinados a um quase-encontro, por favor, seja em um sábado chuvoso, no instante seguinte a eternidade quebrada pelo som do acorde de um violão. Pensarei no porquê de estar ali, mesmo sem nunca entender.