A internet às vezes parece um território de resistência da memória. Boas e ruins, é preciso salientar. Sobre as boas, reside o receio de que, um dia, sumam, desapareçam deste pequeno universo digital. Sobre as más, o receio recai em que, justamente, não desapareçam e permaneçam ali para nos crucificar, castigar, punir pelo que fomos, fizemos – ou nos fizeram.
As memórias são pequenas vibrações surgidas a partir do eco de nossas atitudes, que refletem em todos, mas atormentam particularmente a nós. Com elas, ou vivemos ou surtamos, não há como escapar. Diferente de tudo que é efêmero, a memória resiste, inclusive contra nossa vontade.
Fotos, textos, tuítes, publicações do Facebook. Volta e meia o passado ressurge para nos envergonhar, alegrar ou reafirmar que o tempo passa e que é (ou deveria ser) tudo parte de um processo evolutivo. No Facebook, cada recordação trazida faz com que eu seja confrontado. Sou colocado em perspectiva a partir de minha própria existência. E não se trata aqui das pequenas monstruosidades que volta e meia emergem de nossas profundezas. Para estas, os tribunais digitais se encarregam de eternizar com um print. Falo aqui dos pequenos comentários, dos textos compartilhados, das relações que surgem e somem como dados binários. Entre uns e zeros, nossos rastros vão sendo espalhados pelas comunidades virtuais.
As memórias são pequenas vibrações surgidas a partir do eco de nossas atitudes, que refletem em todos, mas atormentam particularmente a nós. Com elas, ou vivemos ou surtamos, não há como escapar. Diferente de tudo que é efêmero, a memória resiste, inclusive contra nossa vontade.
Na ausência de terapia, a que creio que todos nós deveríamos fazer, dialogo com o meu eu passado, ou meus eus. São tantos que já nem sei mais onde começo e em que ponto termino. Sobre estes Alejandros, às vezes me permito o orgulho, enquanto em outras vezes exercito o perdão. Não se trata de passar a mão na própria cabeça, longe disso. Porém, a compreensão de que um erro pode (e deve!) ser superado é fundamental à continuação. Talvez, então, este espaço de resistência da memória seja, também, um espaço de resistência do eu, onde me coloco à prova, testo meus limites e procuro um encontro sincero com o que possa ser o mais próximo do eu sem máscaras.