Não sou adepto dessas disputas ideológicas sobre o formato de consumo de livros. Quando digo isso, é bom que fique claro, falo sobre achar que um dos formatos, seja o digital ou o físico, é superior ao outro. Não acho. Contudo, tenho minhas preferências.
Admito, sob o risco de ser chamado de conservador, que o formato físico ainda me encanta mais que o digital. Não há dúvidas que um Kindle tem lá suas vantagens. Você carrega vários livros num pequeno aparelho; alguns modelos possuem luz, o que facilita para aqueles que, como eu, já sentem a vista cansada; não ocupa espaço na sua residência com estantes lotadas de livros acumulando poeira; cabe em vários lugares; você pode acessar sua estante virtual de qualquer smartphone, tablet ou computador; etc. Analisando as tantas vantagens colocadas aqui, talvez meus 5 leitores fiquem confusos em como, mesmo com todos os fatos expostos, eu ainda prefira um formato com tão poucas vantagens.
Veja bem, talvez seja uma imensa tolice imaginar que o saudosismo do papel carrega uma magia que o digital não seja capaz de entregar. Talvez seja pueril afirmar que uma obra autografada adquira um valor inestimável. Talvez seja apenas um atraso evolutivo crer que aquela brochura, a qual rabisco, faço anotações e uso um velho marcador de páginas dos sete anões dado por meu pai quando tinha lá meus 6 anos de idade, ainda seja digna de ser carregada debaixo do braço pelos transportes públicos da cidade, apenas por saber que não chamará a atenção de ninguém – afinal, quem roubaria um livro?
Talvez seja apenas um atraso evolutivo crer que aquela brochura ainda seja digna de ser carregada debaixo do braço pelos transportes públicos da cidade, apenas por saber que não chamará a atenção de ninguém – afinal, quem roubaria um livro?
É curioso, eu sei, até porque não estou escrevendo esta crônica em uma Hermes ou Olivetti, atualizo minhas redes pelo celular e acesso o banco e pago contas pelo tablet. Como explicar então, para cada um de vocês, meus bravos e resistentes leitores, as razões para manifestar meu prazer de sentir o cheiro de um livro novo (ou velho)?
Não acredito no fim do livro físico. Talvez se torne mais caro (não que seja barato, veja bem), talvez decidam que apenas livros curtos, aqueles para serem lidos numa sentada, serão alvo de impressão, não sei. O certo é que, como tudo na vida, passamos por um processo de adaptação e, físico ou digital, a torcida é que a literatura seja consumida, independente da forma.
Justamente por isso, minha biblioteca pessoal é aberta ao público – no caso, meus três ou cinco leitores –, basta chegar em casa, fazermos um café, você olhar minha estante e pedir para que, humilde e carinhosamente, eu escolha um livro que imagino você irá gostar. Ora, vejam só. Talvez eu tenha achado uma boa razão para gostar dos livros físicos. Eles exigem a presença do outro para que sejam emprestados, e emprestados sem medo, afinal, quem roubaria um livro?