Ao longo da minha vida, tive algumas coleções. Colecionei latas de bebidas (alcoólicas e não), selos, cartões portais, canetas e até cartões de visita. Meu pai dizia que havia puxado isso de meu avô, um acumulador nato. A bem da verdade, quando visitei meus avós na Bolívia pela primeira vez, no já distante janeiro de 1995, não encontrei por lá nada que desse a entender essa disposição, talvez até inconsciente, de acúmulo.
O certo é que, à época do início de minha primeira coleção, meu pai fez questão de me alertar sobre os riscos de tornar-me um acumulador. Entre outras coisas, explicou, à sua maneira, que ser um acumulador compulsivo poderia ser sinal de um transtorno comportamental. Eu só tinha 12 anos e queria juntar umas latas que eu achava bonitas, que mal poderia haver nisso?
No fim das contas, alguns meses depois, desisti de manter minha coleção, menos pelo medo de ser diagnosticado com o tal transtorno e mais pelo alto custo de manutenção da dita coleção, além do trabalhão de esvaziá-las, enchê-las com areia, selá-las com silicone e, um vez ao menos, desmontar toda minha pilha para tirar a poeira.
Acontece que quando você é mordido pelo bichinho das coleções, você dificilmente consegue viver sem ao menos uma espécie de “conjunto de obras”. Minha última é o acúmulo de livros a serem lidos. Mas, para essa, sempre terei a desculpa que a “moda” veio de meu pai e não de meu avô. Papai fazia questão de manter uma biblioteca com livros clássicos e outros contemporâneos. No meu caso, este acúmulo é uma junção de várias coisas.
Acontece que quando você é mordido pelo bichinho das coleções, você dificilmente consegue viver sem ao menos uma espécie de “conjunto de obras”. Minha última é o acúmulo de livros a serem lidos.
A primeira, é claro, atende ao desejo de manter o hábito da leitura. Inclusive, instalei um bom aplicativo com o qual estabeleço uma competição saudável em que defino uma meta de leitura anual a ser cumprida em 12 meses. A minha meta, em caso de curiosidade, foi de 50 livros.
A segunda é que, sendo editor de um portal de jornalismo cultural, recebemos das editoras um número de livros para análise. Então, é necessário que eles sejam lidos para posterior apreciação crítica. A terceira e última atende a uma provocação paterna da infância. Meu pai fazia questão de sempre dizer: “com a sua idade eu já havia lido os grandes autores”. Se era ou não o objetivo dele, acabou que encarei tal afirmativa como um desafio.
Aí, a junção de uma coisa com a outra criou este novo acúmulo, esta nova coleção “de livros a serem lidos”. De início, a mesa de trabalho dava conta de agregar os livros nesta situação; na sequência, uma caixa de madeira, no estilo destas de feira, ficou responsável por manter as obras ainda não lidas juntas. Agora, precisei abrir espaço nos armários da despensa para colocar cada nova obra que chega pelos correios.
Em minha defesa, é preciso lembrar que quando você pega ritmo na leitura, dificilmente consegue parar; também é necessário pontuar que 2016 tem sido um ano maravilhoso em relação a lançamentos. Grandes escritores passaram a chegar na terra brasilis, obrigando este pequeno padawan da leitura a adquiri-los com a missão de devorá-los.
O leitor pode perguntar “mas por que você não adquire ou solicita livros digitais?”, ao que eu responderia “como se a nuvem também não estivesse cheia de livros a serem consumidos”. Resumo da ópera: sou um acumulador de livros, físicos e digitais. Mas meu leitor não precisa ficar preocupado. Com o ritmo acelerado de minhas últimas leituras, em breve me desfarei desta coleção. O problema é que, aí, ganharei outra: a do acúmulo de livros lidos. Fazer o quê?