Existe uma sensação que me persegue desde que me entendo por gente. Sinto-me um eterno estrangeiro. Não se trata de uma sensação exclusiva com a cidade, vai além. É uma coisa que transcende e atinge, também, as relações humanas. É preciso explicar ao leitor que não se trata, no entanto, de um sentimento ruim. Tenho para mim que ser estrangeiro no mundo e no outro é, em alguma medida, um mecanismo de tentar refletir sobre mim, minha presença na Terra.
Ao estrangeiro não resta outra medida que não se perder, na cidade e no outro. Perder-se com o simples intuito de encontrar, percorrer as ruas escuras e vazias, as vielas, também as calçadas esburacadas que tanto revelam sobre aquele pequeno espaço de território. Ser estrangeiro é encarar a aventura de desbravar o seu extremo oposto para, então, descobrir que tudo que nos distingue é, também, o que nos aproxima.
Ser estrangeiro é encarar a aventura de desbravar o seu extremo oposto para, então, descobrir que tudo que nos distingue é, também, o que nos aproxima.
Evidente que há pequenas doses de sofrimento que se inserem na narrativa do estrangeiro. Ser estrangeiro é retornar ao estágio inicial da vida, em que tudo é novo e, por isso mesmo, um pouco assustador. Quando não sabemos o que o mundo há de nos oferecer, e tampouco conhecemos e entendemos aquilo que vemos, o receio surge como a nos aprisionar. Ser estrangeiro é aprender a domar este medo.
Caminho por Curitiba ainda me sentindo estranho a suas araucárias, ao frio e, principalmente, a suas relações sociais que são estabelecidas fora de todos os parâmetros a que fui domesticado ao longo da vida. Mas é neste estrangeirismo que encontro motivações para decifrar a cidade e suas idiossincrasias.
Talvez, o dia em que Curitiba não me fizer sentir esta tensão e este despreparo que todo estrangeiro sente em terras de outrem, tenha chegado o momento de partir em direção a uma nova forma de estrangeirismo e desconforto. Até lá, sigo plantando um pouco da minha cultura neste espaço geográfico em que me faço, e me sinto, estrangeiro.