Parou em frente ao balcão.
– Qual pão a senhora vai querer?
– Não sei. Qual pão é bom pra divórcio?
– Tem esses aí que estão descritos no vidro.
– Italiano.
– Recheio?
– Não, o pão não vai ser italiano. Vai ser o de parmesão.
O funcionário pegou outro pão. Cortou.
– Recheio?
– Ai, moço, acho que o pão era o italiano, mesmo.
– A senhora tem certeza?
– Tenho. Não. Não, eu não tenho.
– A senhora não quer esperar ali atrás pra ir pensando?
– Não, não quero.
– Então: qual pão?
– Não sei. Acho melhor esperar ali atrás e ir pensando, né?
– É.
Foi para o fim da fila. Após alguns minutos, sua vez havia chegado novamente.
– Qual pão a senhora vai querer?
– Eu não sei.
– Minha nossa! Mas a senhora não pensou?
– Eu pensei no meu ex-marido.
– E o pão?
– Ele gostava desse de parmesão.
– Então vai ser o de parmesão?
– Não! Eu não posso pedir o que ele pedia.
– Então o que a senhora vai fazer?
– EU NÃO SEI, FORAM TRINTA ANOS DE CASAMENTO E AGORA SAIU O DIVÓRCIO E EU NÃO SEI O QUE VOU FAZER DA MINHA VIDA!
– Mas não na vida, só sobre o pão.
– Eu vou querer o italiano.
– Tudo bem, vamos com italiano.
Começou a chorar.
– Qual pão a senhora vai querer?
– Eu não sei.
– Minha nossa! Mas a senhora não pensou?
– Eu pensei no meu ex-marido.
– Não precisa chorar, a senhora está indo bem.
– Ele nunca escolheria o italiano.
– Mas isso é ótimo, a senhora está seguindo em frente. Vamos para o recheio?
– Eu não tô preparada para o recheio.
– É fácil, as opções estão todas descritas aqui.
Enxugou as lágrimas com um guardanapo que o funcionário entregou.
– Escolheu?
– Eu vou querer o de frango defumado.
– Ótimo!
Voltou a chorar.
– Mas o que foi?
– Coitado do frango! Mataram, defumaram…
– Não é hora da senhora pensar no frango, é hora de pensar em você.
– Primeiro o divórcio, agora o frango…
– Tudo vai melhorar, a senhora vai ver.
Entregou outro guardanapo.
– Posso fazer o de frango?
– Melhor não, estou um pouco confusa.
– A senhora quer um conselho?
– Quero. Existe uma opção menos triste?
– Não é conselho sobre o recheio, é sobre começar a enfrentar esse divórcio hoje, de cabeça erguida, tomando decisões mais fáceis de fazer nesse momento.
– Certo.
– Tá vendo ali na frente?
Apontou para o outro lado da praça de alimentação.
– Ali onde tem uma letra M bem grande?
– Sim, estou.
– Vai lá agora e pede um número um.
Sorriu e foi, devagar.
Voltou dez minutos depois, cabisbaixa, sem nada nas mãos: perguntaram se ela queria batata grande por mais um real.
– Ele adorava batata, moço.
– Mas quem foi o filho da puta que inventou essa promoção?