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Home Crônicas Helena Perdiz

No elevador

porHelena Perdiz
27 de maio de 2016
em Helena Perdiz
A A
"No elevador", crônica de Helena Perdiz.

Imagem: Reprodução.

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Entrar no elevador com alguém é sempre algo constrangedor. A gente fica fechado num cubículo, frente a frente, sem ter certeza se é melhor falar alguma coisa ou ficar quieto, se olha para o teto ou para o chão, orando para acabar logo, e os segundos parecem demorar uma eternidade pra passar – só pra deixar a situação ainda mais agradável de ser vivida. Normalmente, sai alguma piadinha bem idiota, e todo mundo acha sem graça, mas ri por não ter nada melhor para fazer (e porque sabe que, se não rir, todos ficarão ainda mais constrangidos).

Foi assim com Olívia, que teve o azar de entrar no elevador do prédio comercial com um “quase conhecido” – estes são os piores: a gente nunca sabe se deve ao menos fazer um cumprimento mais caloroso, porque existe a possibilidade de estar fazendo confusão e nunca ter visto a pessoa antes.

Olívia decidiu que o melhor lugar para olhar era o chão e abaixou a cabeça enquanto levantava a sobrancelha e pensava “mas de que porra de lugar eu conheço esse cara?”. Teve o raciocínio impedido pelo barulho vindo de fora do elevador, que parou bruscamente.

– Minha Nossa Senhora Aparecida! – gritou o rapaz.

“Pode ser da igreja”, concluiu. Ela frequentava as missas aos domingos e, claramente, aquele ser também era católico – ou apelava para a santa nos momentos de desespero, possibilidade que não poderia ser excluída.

Entrar no elevador com alguém é sempre algo constrangedor. A gente fica fechado num cubículo, frente a frente, sem ter certeza se é melhor falar alguma coisa ou ficar quieto, se olha para o teto ou para o chão, orando para acabar logo, e os segundos parecem demorar uma eternidade pra passar – só pra deixar a situação ainda mais agradável de ser vivida.

Decidiu aguardar em silêncio, para não cometer nenhuma gafe. Mas o moço pareceu pensar diferente.

– Cacete! Faz alguma coisa. Olívia, aperta o interfone, chama alguém, a gente vai morrer!

Ela arregalou os olhos e tudo o que conseguiu pensar foi: “fodeu, ele sabe o meu nome, a gente realmente se conhece”. Apertou o interfone e o segurança atendeu.

– Segurança.

– Boa tarde. O elevador parou de funcionar. Até a luz apagou.

– Sim, senhora, já estamos cientes do problema e tentaremos resolver. A senhora está sozinha?

– Não, tem uma pessoa comigo.

– É o doutor Fernando que está com você?

– Fique tranquilo, tem alguém aqui comigo.

– Mas é o doutor Fernando?

– Não.

– Quem é?

– Eu não quero mais falar sobre isso.

– Senhora? Senhora, está tudo bem? Precisa de ajuda?

– Só consertem o elevador.

– A senhora está em perigo? Quem está aí com você?

– Não estou em perigo. Só quero sair deste lugar.

Voltaram. O silêncio e a escuridão. Por pouco tempo.

– Por que você não falou o meu nome para o segurança, Olívia?

– Porque não.

– Qual o problema de falar meu nome?

– Eu não quis falar.

– Típico.

– Típico?

– Sua cara agir assim, desdenhar as pessoas.

– Quem você pensa que é pra falar assim comigo?

– Você sabe muito bem quem eu sou.

– Pois talvez eu não saiba.

E ela não sabia, mesmo.

– Tá, Olívia, não precisa mais falar, vamos aguardar em silêncio.

– Ótimo.

– Pelo menos não tenho que olhar para a sua cara azeda, a falta de energia fez bem.

– Digo o mesmo.

Passaram-se três horas de constrangimento e luz apagada, sem ninguém abrir a boca. O homem dava uns tapinhas na parede, às vezes, mostrando-se inquieto, enquanto ela continuava paralisada tentando se lembrar de quem era aquele e o que ela havia feito de tão ruim para ele – sem sucesso.

O técnico da manutenção finalmente abriu a porta e, sem pensar duas vezes, Olívia saiu correndo sem nem agradecer.

Decidiu que estava na hora de começar a usar as escadas.

Tags: constrangimentoCrônicaelevador

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