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Home Crônicas Helena Perdiz

O moço do Uber

porHelena Perdiz
13 de maio de 2016
em Helena Perdiz
A A
"O moço do Uber", crônica de Helena Perdiz.

Imagem: Reprodução.

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– Alô, é o moço do Uber?

– Isso. É a Florisvalda?

– Sim. Moço, você tá perdido? Ou o app tá maluco ou você tá perdido.

– Tô perdido. Onde a senhora está?

– Na rua do lado do shopping.

– Tudo bem, estou indo.

Dez minutos depois.

– Alô, moço do Uber.

– Oi, Florisvalda.

– Não é possível. Onde você tá?

– Dentro do estacionamento.

– QUÊ? Por quê?

– Eu achei que a senhora estivesse dentro do estacionamento.

– Eu tô na rua, moço. Na rua.

– Desculpa, Florisvalda. Tô indo.

Trinta minutos depois.

– Moço, sério, isso não está dando certo. Faz meia hora que eu tô carregando um micro-ondas que comprei em 24 vezes nas Casas Bahia, sozinha, numa calçada escura, com uma música do Latino na cabeça, vontade de fazer xixi e muita, mas muita fome.

– Eu também.

– Você também o quê?

– Também estou com muita fome.

– A parte da música do Latino ainda é pior.

– É verdade. Já vou aí. Em qual shopping é?

– Você só pode estar brincando.

– Fique calma, acho que estou no shopping correto.

Cinquenta minutos depois.

– Alô, moço do Uber.

– Alô, Flor.

Moço, sério, isso não está dando certo. Faz meia hora que eu tô carregando um micro-ondas que comprei em 24 vezes nas Casas Bahia, sozinha, numa calçada escura, com uma música do Latino na cabeça, vontade de fazer xixi e muita, mas muita fome.

– Florisvalda.

– Alô, Florisvalda.

– Cadê você, porra? Eu já tentei até cancelar a corrida, mas o aplicativo travou e eu simplesmente preciso ir pra casa.

– Estou a caminho. Onde a senhora está, mesmo?

– No mesmo lugar.

– Onde é o mesmo lugar?

– Puta que pariu, na rua do lado do shopping!

– Estou chegando. Pode ficar tranquila que tem água e bala no carro pra senhora se acalmar.

Uma hora e dez minutos depois.

– Alô. Moço do Uber, pelo amor do deus que você acredita ou deixa de acreditar: onde você está?

– Eu tô aqui na entrada do shopping, esperando por você. Faz tempo.

– Moço. MOÇO. Eu tô na rua do-la-do. Do lado.

– Mas qual rua?

– Moço, não se mexe, tô indo até aí. E é bom ter bastante balinha pra me dar, porque por mais um pouquinho quem vai levar bala é você.

Tags: Casas BahiaCrônicaLatinoMoçoUber

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