Entrou no pet shop.
– Boa tarde! Em que posso ajudá-lo?
– Boa tarde. Eu gostaria de solicitar um retorno.
– Pois não. Fazer uma devolução?
– Não, solicitar uma devolução. Eu quero que vocês devolvam os pelos do meu coelho.
– Eu não entendi.
Colocou a caixinha de transporte em cima do balcão, um coelho peladinho e rosado dentro.
– O senhor poderia me explicar melhor?
– Sim, com todo o prazer: esse não é o Adamastor.
– Certo. E esse é quem?
– Um anônimo. Ele era o Adamastor, mas aí eu usei aquele creme que comprei aqui, o Tozencasa, e todos os pelos dele caíram.
– Senhor, mas isso quer dizer que o creme funcionou com sucesso, o objetivo do Tozencasa é eliminar os pelos de maneira rápida e indolor.
– Porém, a dor aqui está sendo grande, querida. Sabe qual é o apelido dele, que eu o chamo com muito carinho, diariamente, há anos? Gordão.
– Certo.
– Ele parece gordão pra você?
– Não, ele não parece gordão.
– Sabe por quê? Porque ele tá parecendo um gato sphynx desnutrido!
A mulher olhou para o bicho, meio sem graça.
– Senhor, infelizmente, se o produto cumpriu com o prometido, eu não tenho o que fazer por você. Nossa vendedora explicou para que servia?
– Sim.
– Então o senhor sabia que isso ia acontecer.
– Sabia? Sabia, é verdade. Mas só até uma parte. Alguém me alertou que ele ia ficar feio, magro, parecendo um Pokémon de dieta? Não, ninguém me falou sobre isso. Alguém me contou que ia ser difícil voltar a amá-lo um dia, me disse que eu não ia mais conseguir olhar pra ele por ter medo do meu próprio pet? Não, sobre isso também, ninguém me falou.
– Mas, senhor, isso não é nossa obrigação.
– Senhor, eu realmente não sei como ajudar, eu posso abrir uma exceção e devolver o seu dinheiro.
– Eu não quero dinheiro, eu quero pelos.
– Não tenho pelos aqui.
– Então, por favor, chame o gerente. Essa é sua obrigação agora.
– A gerente sou eu.
– Então, por favor, devolva os pelos do meu coelho. Eu não saio dessa loja enquanto ele ainda estiver nu.
A gerente tapou os dois olhos com as mãos e ficou parada por um tempo, como se estivesse rezando para que um milagre a tirasse daquela situação.
– Senhor, eu realmente não sei como ajudar, eu posso abrir uma exceção e devolver o seu dinheiro.
– Eu não quero dinheiro, eu quero pelos.
– Não tenho pelos aqui.
– E como a gente fica? Olha bem pro Adamastor, olha pro fundo dos olhos dele e me fala se eu não tenho razão.
– Ele tá fofo.
– Não, não está.
– Tá cor-de-rosa.
– Eu gosto dele cinza.
– Mas os pelos vão crescer novamente em duas semanas, no máximo.
– Não vou sobreviver a tanto tempo morando com um desconhecido.
Ela não falou mais nada. Virou as costas, foi até o fundo da loja e ficou lá por alguns minutos. Voltou com um pacote grande, cheio de pacotes menores dentro, e começou a procurar alguma coisa – o que, até então, não queria dizer absolutamente nada.
– Achei!
– Pelos?
– Mais ou menos.
Colocou uma embalagem toda desenhada em cima do balcão, com vários cachorrinhos.
– Olha, eu acho que isso aqui vai ajudar. É pra cachorro, mas como o Adamastor é grande, vai caber nele.
– O que é?
– Uma fantasia de ovelha.