– Eu não tô aguentando. Sério, acho que não consigo mais, tô pensando em desistir.
– Calma, é só uma fase.
– Não é só uma fase, é bem pior que isso.
– Eu tô aqui com você. Olha tudo o que você já enfrentou até agora, não é hora de desistir.
– É muito mais fácil falar quando você não está vivendo a situação. Você sabe disso.
– Claro que eu sei, mas eu quero ajudar. Você tá negando a minha ajuda há tanto tempo. Percebe que não tá adiantando porra nenhuma?
– Eu cheguei até aqui sozinho, preciso passar por isso sozinho. Já virou questão de honra, Carol.
– André, chega de ser orgulhoso! Aceitar ajuda não faz de você uma pessoa pior.
– Faz de mim uma pessoa fraca.
– Nossa, não sei de onde você tira essas coisas. Que tonto.
Cruzou as duas pernas em cima do sofá e acariciou o gato, que assistia a discussão completamente calmo.
“André, chega de ser orgulhoso! Aceitar ajuda não faz de você uma pessoa pior.“
– Eu sou tonto, Carolina?
– Neste momento, é. Porque não percebe que eu posso facilitar as coisas pra você voltar a ser feliz.
– Eu sou feliz, só estou nervoso. Agradeço a você pela imensa e verdadeira vontade de ajudar, Carolina, mas preciso que entenda que há coisas que eu devo resolver por mim mesmo.
– Essa não é uma delas. Seria bem mais fácil se a gente passasse por isso juntos.
– Na semana passada, era você no meu lugar. Você deixou que eu ajudasse?
– Não, mas era uma situação diferente, Dé.
– Do meu ponto de vista, era exatamente a mesma coisa.
– Tá bom, eu errei, admito que teria sido mais fácil com a sua ajuda. Tá melhor?
– Não, só vou ficar melhor depois que tiver conseguido passar por essa bosta toda.
– Então fica aí, na solidão, passando pela fase mais difícil da sua vida. Eu vou dormir. Não tem papo com você, que saco.
Levantou, calçou as pantufas e foi para o quarto. Voltou depois de dez minutos.
– Ué, não ia dormir?
– Não consigo com você reclamando alto o tempo todo. Olha a hora, André, vai deitar também. Amanhã você tenta de novo.
– Tá bom, Carol, tá bom, você me convenceu. Vem logo!
– Convenci?
– Convenceu. Mas não conta pra ninguém.
– Finalmente! Dá aqui o controle.
– Tó.
– Só que depois que eu passar esse chefão, a gente vai dormir.
– Fechado. Mas passa!