Estava trabalhando muito, há vários dias sem dormir quase nada. Foi para o banheiro mais escondido da empresa, no fundo do estoque, tirar uma soneca.
Sentou no vaso, apoiou os cotovelos na perna, a cabeça nas mãos e fechou os olhos. Acordou renovado. Olhou para o relógio, “16 horas ainda? Dormi só uma hora, parece que foram muitas”.
Deu aquela ajeitada no cabelo e voltou à mesa em que trabalhava, feliz e aliviado.
– Fonseca? Caralho, gente! É o Fonseca! Cê tá bem, cara?
Todos se levantaram e foram abraçá-lo, perguntando como ele estava. Fonseca ficou um pouco envergonhado, achou que ninguém havia notado sua ausência durante aquela hora.
Sentou no vaso, apoiou os cotovelos na perna, a cabeça nas mãos e fechou os olhos. Acordou renovado.
– Cara, vai pra casa! Vai descansar. Quer que a gente ligue pra alguém buscar você?
– Não estou entendendo, Silva. Eu tô bem, cara, só tive que resolver umas coisas, mas tá tudo bem.
Todos se olharam, um pouco assustados.
– Bom, precisando de alguma coisa, pode chamar a gente, beleza? Conte com a gente.
– Claro.
Os funcionários voltaram para suas devidas mesas e Fonseca seguiu trabalhando na planilha que precisava entregar.
Alguns minutos depois, a enfermeira do escritório apareceu, ao lado do chefe do departamento.
– Boa tarde, senhor Fonseca. Tudo bem?
– Tudo bem, sim, e com você?
– Tudo bem. O senhor poderia nos acompanhar, por favor?
Foram até o ambulatório, onde ela mediu sua temperatura, pressão e tudo o que tinha direito. Nenhum problema encontrado.
– O senhor está ótimo, graças a Deus!
– Sim, estou, me sinto ótimo.
– Fonseca, querido, o senhor lembra algo sobre o ocorrido? Estamos preocupados.
Fonseca gelou. “O ocorrido”, já estavam chamando aquela dormidinha no banheiro de “o ocorrido”. Tinha certeza que seria demitido. Preferiu ficar calado até contar com a presença de um advogado.
– Fonseca, a gente tá aqui pra ajudar.
– Não tenho nada a declarar.
A enfermeira olhou para o chefe e depois e fez um sinal apontando para a porta, mostrando que ele estava liberado. Fonseca voltou ao trabalho.
Pouco tempo depois, dois policiais se aproximaram da sua mesa.
– Senhor Fonseca?
– Sim, sou eu.
– Pode nos acompanhar, por favor?
Foram até uma sala de reunião.
– O senhor pode nos dizer o que fez nos últimos dois dias?
– Sim, claro. Eu trabalhei até bem tarde, duas da madrugada, mais ou menos. Fui pra casa, tomei banho, dormi e voltei pra cá às sete da manhã. Todos os dias, mesma rotina.
Os policiais se olharam.
– O senhor teria alguma testemunha?
– Claro! Minha esposa, posso ligar para ela. E as pessoas aqui da empresa.
– Não será necessário. Senhor Fonseca, quem fez a denúncia do seu desaparecimento foi sua esposa, e os seus colegas de trabalho confirmaram.
Fonseca arregalou os olhos. Seria uma pegadinha? Alguém havia descoberto sobre a soneca no banheiro e estava tentando ensiná-lo uma lição?
– O senhor gostaria de mudar o seu depoimento?
– Mas é claro que não! Foi exatamente o que eu fiz. Isso é alguma brincadeira?
O policial bufou, parecia estar perdendo a paciência.
– Fonseca, sua esposa nos informou que o senhor não aparece em casa e não dá notícias desde quarta-feira. Seus colegas confirmaram o mesmo por aqui. Vamos ter que levá-lo com a gente.
– A gente? A gente quem? Hoje é quarta! Eu não estou entendendo!
Enquanto o policial caminhava até a porta, Fonseca olhou para o calendário em cima da mesa: 14 de julho, sexta-feira.
Fonseca havia dormido por dois dias seguidos. E uma hora.