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Home Crônicas Helena Perdiz

Tiro no peito

porHelena Perdiz
24 de março de 2016
em Helena Perdiz
A A
"Tiro no peito", crônica de Helena Perdiz.

Imagem: Reprodução.

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Primeiro, eles invadiram o meu lar. Depois, me desrespeitaram. Agora, estão falando mal de mim por aí. Eu vou ter que tomar providências.

Moro nesta casa há décadas e nunca havia passado por uma situação assim. Sei que no papel eu não sou mais a proprietária, mas não custava nada um pouco de respeito, de conversa e um chá de camomila com bolinhos de chuva para negociar antes de simplesmente fazerem uma invasão.

A família apareceu do nada: marido, esposa, dois filhos pequenos e uma filha adolescente, já com um caminhão de mudança cheio de tralhas. Eu estava na varanda quando chegaram, e eles passaram por mim ignorando completamente a minha presença – gentinha esnobe.

Os dias seguintes foram difíceis, passei a me sentir injustiçada e vítima de preconceito o tempo todo. Numa madrugada, fui chorar no banheiro porque não suportava mais aquilo e, sem bater na porta, o homem entrou e deu de cara comigo. Esperei um pedido de desculpas e, ao invés disso, fui verbalmente agredida com as frases de ódio “puta que pariu” e “que merda é essa?”. Isso lá é jeito de tratar uma dama com o coração partido?

Sei que no papel eu não sou mais a proprietária, mas não custava nada um pouco de respeito, de conversa e um chá de camomila com bolinhos de chuva para negociar antes de simplesmente fazerem uma invasão.

Passei por vários episódios parecidos, como no dia em que eu resolvi fazer um esforço para me enturmar. A mulher estava cozinhando e me ofereci para ajudar: peguei a faca, que estava longe, para que ela pudesse cortar a cenoura. Ao invés de agradecer, ela olhou para mim e saiu correndo – demonstrando, claramente e de maneira muito desrespeitosa, que não precisava de mim para fazer o almoço. Fiquei magoada.

Teve ainda a vez em que eu percebi que as crianças haviam esquecido de apagar a luz do quarto para dormir e fui até lá para apagar – afinal, a conta de energia não é nada barata. Um dos meninos acordou com o barulho do interruptor e olhou para mim assustado. Eu falei “volte a dormir, meu bem” e ele começou a gritar “bruxa!” sem parar. Sei que o meu cabelo estava despenteado, mas precisava ofender?

E aí veio a tarde de hoje. Peguei a menina no flagra falando mal de mim para a amiga, ao telefone. Não consegui ouvir a conversa toda, mas entendi perfeitamente quando ela me chamou de “assombração”. Depois de tudo o que eu fiz por aquelas pessoas? Foi como outro tiro no peito.

Invasão, desrespeito e difamação. Não dá mais, eu não passei trinta anos viva e vinte morta para aturar esse tipo de desaforo. Vou recuperar a casa e a dignidade do jeitinho que os meus amigos fazem e que eu já deveria ter aderido: na base do medo.

Tags: assombraçãobruxacasaCrônicaInvasãomedotiro

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