Ouvi a campainha. “Eba, minha pizza!”, corri para abrir a porta.
– Boa noite.
– Boa noite. Você infelizmente não é uma pizza.
– Não sou.
– Mas você é… Verde.
– Isso eu sou.
– E parece um ET.
– Termo completamente ofensivo.
– Mas você é?
– Apesar de não concordar com o termo, sou.
– TEM UM ET NA MINHA PORTA!
– Verde e cheio de vontade de ir ao banheiro, com licença.
– Epa, epa! EPA! Não vai entrar assim na minha casa, não, senhor ET.
– Vou corrigir: verde, cheio de vontade de ir ao banheiro e armado.
Levantou uma arma cinza com a ponta azul e várias luzinhas em volta. Estiquei o braço para impedir que ele entrasse.
– Querido, essa arma da PBKids não cola e aqui você não vai entrar, não dessa forma.
– Eu estou muito apertado!
– E eu estou muito aterrorizada, mas tô me controlando e fingindo que tá tudo bem, você também consegue. Viu como eu pareço calma? Vamos tentar juntos?
– Você não entende, eu comi um alimento novo, é urgente.
– Não me fala que foi o dogão.
– Isso, dogão!
– Do Trailer do Sujão, aqui da frente?
– Sim! Esse mesmo! Não me caiu bem.
– Mas não cai bem nem em gato de rua, meu filho, você não faz ideia do que fez com a sua vida.
Tudo bem que eu não imaginei assim, com você usando a minha privada, eu achei que seria mais, tipo, eu acorrentada numa nave enquanto todos sugam a minha sabedoria.
Ele começou a se contorcer.
– Olha, eu realmente não quero ter que matar você, mas preciso muito usar o banheiro.
– Tá, eu te entendo e também não quero que você me mate. Vou deixar você entrar, mas com uma condição.
– Tudo bem, eu acho.
– Enquanto você estiver no banheiro, você vai responder absolutamente todas as perguntas que eu fizer.
– Você vai comigo no banheiro?
– Não! Do lado de fora.
– Tá bom.
Tirei o braço do batente. Ele entrou correndo.
Parei na frente do banheiro, meio sem graça.
– Então, ET.
– Marvin.
– Marvin? Seu nome é Marvin?
– É.
– Mas que clichezão da porra!
– De onde você acha que surgiu o personagem?
– Tá, não vamos perder tempo com Looney Tunes, eu esperei por esse momento por muito tempo. Tudo bem que eu não imaginei assim, com você usando a minha privada, eu achei que seria mais, tipo, eu acorrentada numa nave enquanto todos sugam a minha sabedoria.
– Sabedoria? Nossa espécie é muito mais evoluída que a sua!
– Você comeu um dogão do Sujão, quem é a sábia aqui?
– Pergunta logo o que você quer!
– EU NÃO SEI O QUE PERGUNTAR, É TANTA COISA QUE ME DEU BRANCO! É um momento especial, é um marco, eu finalmente vou poder saber tudo sobre uma civilização que ninguém conhece.
– Humanos…
Entrei no Google para pesquisar possíveis perguntas, mas nenhuma delas era boa o suficiente para aquela situação única.
– Eu já estou acabando.
– Não, Marvin, espera! Eu preciso perguntar.
– Então, pergunte.
– Eu não sei, eu não sei, eu não sei!
Ouvi a descarga.
– Não! Por favor, não!
Ele saiu. Foi andando até a porta da sala.
– Terráquea, muito obrigado pela ajuda. Quando a gente for acabar com o seu planeta, vou me lembrar de você: será rápido e indolor. Paz.
– É. Obrigada?
– De nada.
– Por favor, me fala alguma coisa. QUALQUER COISA. Eu não consegui perguntar, sou um fracasso para a minha geração, para as gerações anteriores, pro meu cachorro…
– Apenas que: busquem conhecimento.
– QUÊ?
– A gente conhece todos os memes.
Saiu rindo – pelo menos eu descobri isso: extraterrestres também riem. O que ele tinha vindo fazer na Terra? Por que ele foi até o Trailer do Sujão se havia um Outback do outro lado da rua? Como ele sabia falar português? Por que ele citou o meme do ET Bilu se já estamos em 2017?
Droga. Eu poderia ter perguntado tudo isso.