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Home Crônicas Henrique Fendrich

Ela regressou

porHenrique Fendrich
24 de agosto de 2016
em Henrique Fendrich
A A
"Ela regressou", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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Ela regressou, e nós nem sabemos dizer de onde. Esteve fora por poucos dias e não foram todos que notaram sua ausência. Apenas aconteceu dela se dar um feriado no dia do seu aniversário – uma sexta-feira – e aproveitar para viajar. Provavelmente foi para o Nordeste. Talvez Bahia. As pessoas costumam ir para a Bahia. Ou qualquer outro estado, mas certamente um lugar quente, como Brasília, e cheio de praias, ao contrário de Brasília.

Pois veio a segunda-feira e ela estava de volta. Cumprimentou-me, como todos os dias, mas senti que o seu sorriso era diferente. Ela tinha consciência de que estava regressando de uma experiência extraordinária. Sabia que nós ficáramos o tempo todo na nossa pobre cidade, vivendo a nossa mesma vida de sempre, e não tínhamos muitas novidades a contar. O que pode acontecer por aqui, afinal? É possível acontecer qualquer coisa digna de nota em uma cidade sem praia? Não, a gente poderia falar apenas do trânsito, do tempo seco, do futebol carioca.

Mas ela vinha de um fim de semana cheio de coisas diferentes, e sabia disso. Seu sorriso provavelmente significava vontade de compartilhar, desejo ser ouvida. Ouçam todos vocês o que eu vivi nesses três dias! Prestem atenção em tudo o que aconteceu comigo por lá! Vocês não vão acreditar nas coisas que eu vi! Ah, foi maravilhoso, maravilhoso.

Ela vinha de um fim de semana cheio de coisas diferentes, e sabia disso.

Assim eu imagino que diria o seu coração, caso tivesse oportunidade de falar. Mas não só ele permaneceu calado como inclusive a sua própria dona não emitiu som algum. Ela chegou e, depois de sorrir com doce superioridade, apenas sentou, e começou a fazer tudo aquilo que faz no seu dia-a-dia – naqueles tristes dias em que não está na Bahia. Verdade é que não fiz movimento algum que desse a entender meu desejo de ouvi-la falar sobre a sua viagem. Pelo contrário, eu a cumprimentei secamente, como é do meu feitio. Agi como se fosse um dia normal, mas por nem um momento eu me esqueci que não era. Era o dia em que ela havia regressado, e coisas precisariam ser contadas.

Aos poucos as pessoas vão chegando, e algumas, educadamente, fazem uma ligeira menção à viagem. Perguntam se estava boa. Ora, é uma pergunta tola, porque as viagens sempre estavam boas, principalmente quando se vai para longe do trabalho e para perto do mar. E ela então confirma, e responde mais alguma coisa, dando um leve indício de que estava muito, mas muito bom mesmo, e que nós é que perdemos em ficar aqui. Mas ela não diz isso e, na verdade, ficamos muito satisfeitos porque a sua resposta não se estende muito. Que tenha sido bom, e isso já nos basta. Achamos um terrível exagero se ela começa a contar um incidente ocorrido no hotel. Isso já não nos diz respeito. Significou muito naquela hora para ela, mas para nós não significa mais nada. E ela talvez saiba que não nos interessamos, e por isso silencia e não nos conta detalhe algum.

Não nos iludamos: sabemos que essa é uma posição estrategicamente defensiva. Mas, ao menor sinal do nosso interesse, ela muda de tática e parte para o ataque – e começará a falar de cada praia, de cada pessoa, de cada história. Seguramente, ela deseja isso – assim desejam todos os que viajam. Hoje, no entanto, não foi um bom dia para isso. Ela permaneceu firme em seu posto durante todo o tempo. Respeitou a nossa vontade. Respeitou com espantosa dignidade o nosso egoísmo – o nosso precioso egoísmo.

Tags: Crônicaregressoviagemvolta

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