• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Henrique Fendrich

Era o dia em que achei que fosse morrer

porHenrique Fendrich
11 de janeiro de 2017
em Henrique Fendrich
A A
era o dia em que achei que fosse morrer

Foto: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Era o dia em que achei que fosse morrer – talvez não àquela hora, talvez nem mesmo naquele dia, mas, inevitavelmente, morrer. E a minha morte me pareceu uma injustiça tão grande que eu quis fazer alguma coisa para impedir, nem que fosse apenas sair de casa e dar uma volta, qualquer coisa menos ficar esperando por ela. Então eu saí, naquela tarde de sábado em que não havia sol, mas eu não sabia para onde é que se deve ir quando se quer fugir da morte. Tomei o rumo das praças, das árvores, das flores, porque achei que seria muita crueldade se a morte fosse atrás de mim no meio daquela vida.

Caminhava devagar, olhando cada pessoa que encontrava, desejando que alguém também me visse e adivinhasse o que se passava comigo, que se prontificasse a me ajudar, tomasse iniciativas que nunca me ocorreriam. Mas qual, ninguém prestava atenção em mim, e eu apenas ouvia o canto enlouquecido das cigarras, das cigarras e de alguns pássaros que eu não conseguia identificar.

E a minha morte me pareceu uma injustiça tão grande que eu quis fazer alguma coisa para impedir, nem que fosse apenas sair de casa e dar uma volta, qualquer coisa menos ficar esperando por ela.

De tanto olhar ao redor, cheguei a presenciar o exato momento em que um desses passarinhos pulou em uma tina de água e começou a se lavar, coisa que muito alegrou uma moça que também passava por ali, a ponto de se virar para mim e comentar: “Olha que bonito!”. Eu não estava no clima, carregava muitos pensamentos sombrios, mas tive que concordar: era mesmo muito bonito.

Eu pensava, então, em como a natureza ousava ser bonita em um dia como aquele, e continuava caminhando, ruminando meus próprios dramas, quando me aproximei de uma quadra de esportes, uma dessas quadras de concreto que fazem para quem mora em prédio, e vi ali um menino e uma menina de oito, nove anos, no máximo, chutando de gol a gol. Fiquei imaginando que coisa feliz era ficar jogando bola ali, ser criança e jogar bola ali.

Reparei que a menina chutava muito bem, e fui observando os dois e caminhando, até que o menino deu um chute torto, a bola saiu da quadra e veio exatamente na minha direção, coisa que achei muito natural, talvez até esperasse por isso. Então eu aparei a bola com uma mão, deixei quicar e a devolvi de primeira com um chute de pé esquerdo, porque aquela bola era para quem chuta de esquerda mesmo. E não é que a bola caiu exatamente nas mãos da menina, um chute perfeito, e a menina pegou a bola e me agradeceu, agradeceu e sorriu para mim.

E eu segui em frente, como se nada de extraordinário houvesse acontecido, naquela tarde de sábado em que não havia sol, naquele dia em que eu me desesperei porque achei que fosse morrer, e talvez ainda morresse mesmo, mas pelo menos aquele dia havia valido a pena.

Tags: Crônicamorrer

VEJA TAMBÉM

"Drama da mulher que briga com o ex", crônica de Henrique Fendrich.
Henrique Fendrich

Drama da mulher que briga com o ex

24 de novembro de 2021
"A vó do meu vô", crônica de Henrique Fendrich
Henrique Fendrich

A vó do meu vô

17 de novembro de 2021
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Calçadão de Copacabana. Imagem: Sebastião Marinho / Agência O Globo / Reprodução.

Rastros de tempo e mar

30 de maio de 2025
Banda carioca completou um ano de atividade recentemente. Imagem: Divulgação.

Partido da Classe Perigosa: um grupo essencialmente contra-hegemônico

29 de maio de 2025
Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Rob Lowe e Andrew McCarthy, membros do "Brat Pack". Imagem: ABC Studios / Divulgação.

‘Brats’ é uma deliciosa homenagem aos filmes adolescentes dos anos 1980

29 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.