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Home Crônicas Henrique Fendrich

Hora de me despedir

porHenrique Fendrich
1 de junho de 2016
em Henrique Fendrich
A A
"Hora de me despedir", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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E dizer que se passaram seis anos, seis anos em que eu, admirável homem das neves, me submeti às temperaturas de Brasília, às securas de Brasília, e fiz do protetor solar o meu amigo mais intimo, seis anos em que precisei aprender a morar sozinho, a comer sem fogão, e cheguei a perder dez quilos, porque eu não estava preparado, eu não sabia como era viver assim, eu vim para cá sem medir as consequências, vim por obras da paixão, mas a paixão acaba, e quando acabou eu já tinha um emprego e não podia mais voltar, até que agora eu também já não tenho emprego algum e decidi que está na hora de me despedir da capital do país, voltar para casa, depois de seis anos.

Há muitas coisas para se lembrar, não se passa impune pelo centro político da nação, acompanhei reuniões do Executivo, intermináveis discussões sobre o uso de “de” ou “do” no texto de alguma resolução, vi audiências públicas na Câmara, admirei-me que os deputados falassem ao telefone, papeassem e saíssem no meio da sessão, subi a rampa do Palácio do Planalto, qual um Presidente da República, e descobri que cansa subir aquela rampa, mas eu também não assumi Brasil nenhum, fui lá só para ver o Oscar Niemeyer, o que restava do Oscar Niemeyer, e de dentro do caixão ele parecia dizer “me tirem daqui, eu tenho que trabalhar, meus projetos estão atrasados”.

Já não tenho emprego algum e decidi que está na hora de me despedir da capital do país, voltar para casa, depois de seis anos.

Aquela noite de protestos em 2013, aqueles inexplicáveis protestos de 2013, que rendem até hoje, que são origem de tudo que veio depois, eu também estive lá, na frente do Congresso, sem saber o que esperar, mais assistindo do que protestando, e quando decidiram caminhar pelo Eixão eu caminhei junto, e os carros nos apoiavam, e os gritos de “vem pra rua” ecoavam nas superquadras.

Tantos lugares, a Rodoviária do Plano Piloto, caótica, tumultuada, perigosa, pior que o Terminal Guadalupe, bem pior que o Terminal Guadalupe, ali eu jantei muitas vezes, ali um dia eu pesei o prato e descobri que estava sem dinheiro, ali fica um dos 49 restaurantes baratos em que comi, mas não aquele que tem uma atendente tão bonita que uma vez eu arrumei um espacinho para ela na minha crônica, pois eu fiz muitas crônicas aqui em Brasília, fiz uma crônica sobre o pôr-do-sol no Parque da Cidade, eu, Isadora e Dom Canuto, mas deveria ter feito também uma sobre a Lua Cheia na Esplanada, o céu da cidade que pode ser visto sem nenhuma fiação elétrica.

A descoberta do basquete, as duas vezes em que vi um time de Goiás ser campeão brasiliense de futebol, a Copa do Mundo que eu vi no shopping, repleto de colombianos, o álbum de figurinhas que completei na 106 Norte, as apresentações da orquestra, aquela violinista chinesa, o Santuário Dom Bosco, melhor que a Catedral, as bibliotecas, aquelas que ainda não foram interditadas.

As pessoas, Dona Lúcia, que nunca viu inquilino como eu, aqueles que me viam fugir dos lugares em que me sentia pouco à vontade, os que ajudaram na minha vida de dona de casa, no desespero da minha solidão, ah, como foram bons, e aqui estou eu, sobrevivi, mudei filosofias e comportamentos, tem ainda um bom tanto para mudar, mas não será aqui, estourou a guerra, o dever me chama, e a minha montanha mágica virará lembrança.

Tags: BrasíliaCrônicadespedida

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