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Home Crônicas Henrique Fendrich

Lá das alturas

porHenrique Fendrich
30 de novembro de 2016
em Henrique Fendrich
A A
"Lá das alturas", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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Ainda estamos no chão, mas em movimento, vivendo aqueles demorados instantes em que o avião se dirige à pista de decolagem. Há cada vez mais pessoas querendo partir, e por isso precisamos esperar a nossa vez. Enquanto isso, nos distraímos assistindo à televisão, pois também aqui elas chegaram, e já não há mais muito lugar onde uma pessoa se obrigue a pensar na própria vida. Mas o comandante nos avisa que a decolagem foi autorizada, e então todos nós voltamos a prestar atenção no avião, e creio que alguns até mesmo suspendem a respiração enquanto aceleramos loucamente rumo aos ares.

Estou sentado à janela e sinto o exato momento em que deixamos de tocar o solo. Hesito, mas por fim olho para fora e vejo a cidade se afastar. Tudo ocorreu perfeitamente. Súbito, o piloto resolve fazer uma curva no ar – estávamos na direção errada. Já andei várias vezes de avião, mas ainda não me acostumei com a sensação de voar inclinado, como acontece durante as curvas, e talvez por isso eu tente sempre compensar o desconforto inclinando meu próprio corpo para o lado oposto – que vem a ser o do passageiro ao meu lado, o que exige certo cuidado para que eu não caia em cima dele. Mas tudo indica que meu esforço funciona, pois logo em seguida o avião volta a voar em linha relativamente reta.

No fim das contas não passamos de um rastro lá embaixo, e se Deus consegue enxergar é apenas porque realmente é Deus.

Há um canal na televisão que mostra o mapa de vôo. Os números assustam: estamos a mais de 800 quilômetros por hora, a 11 quilômetros de altura. Vejo a cidade que estamos sobrevoando e tento identificá-la lá embaixo, enxergar alguma coisa que permita dizer que um dia já a vi e conheci, ainda que nunca tenha pisado nela. Mas não consigo ver muita coisa. É tudo pequeno demais. E quando de repente apareceu algo realmente grande, gigantesco mesmo, eu nem precisei olhar no mapa para conferir: estávamos sobrevoando São Paulo.

O engraçado é que toda essa grandeza também parece insignificante ali de cima, e eu fiquei a imaginar qual é a visão que Deus deve ter de nós lá do céu. Que minúsculos que somos! Vivemos nossa vida cheios de problemas fundamentais, de decisões que nos afetam profundamente, sempre dispostos a nos justificar, amando quem achamos merecer, sofrendo invariavelmente, cheios de motivos para matar ou morrer, e no fim das contas não passamos de um rastro lá embaixo, e se Deus consegue nos enxergar é apenas porque realmente é Deus. E o mais curioso é que no meio dessa insignificância toda, no irrisório quadradinho que nos coube viver, no meio de uma pequena e rara porção de terra, ainda assim temos o direito de reivindicar coisas a esse Deus, de apresentar nossas complicadas questões e, às vezes – oh glória! –, de ser até atendido.

Muita coisa boa eu não consigo entender. Não sei como esse negócio voa, quando tinha absolutamente tudo para não voar. Isso daqui é uma loucura, é muita pretensão para o ser humano, e no entanto, na imensa maioria dos casos, dá certo. Tenho sempre a sensação de milagre – ou, no mínimo, a condescendência, a tolerância divina.

Quando aterrissamos, estou certo de ter passado por uma algo extraordinário, e não hesitaria em contar cada detalhe da viagem, caso isso realmente interessasse às pessoas que não tiraram os seus pés da terra. Andar de avião é, pois, uma experiência transcendental.

Tags: andar de aviãoaviãoCrônicaviagem de aviãoviajar de avião

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