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Home Crônicas Henrique Fendrich

Longe demais das capitais

porHenrique Fendrich
17 de junho de 2020
em Henrique Fendrich
A A
Longe demais das capitais, crônica de Henrique Fendrich

Imagem: Eurico Salis/Divulgação.

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Lá se vão 35 anos desde que a UFRGS teve a oportunidade de assistir ao curioso show de uma banda formada por estudantes de arquitetura, sob a liderança de Humberto Gessinger. A começar pelo nome, “Engenheiros do Hawaii”, notava-se um tipo peculiar de humor, nem sempre compreendido. Por sorte, o primeiro disco ainda levaria mais de um ano até ser lançado – deu tempo de a banda amadurecer, o que se observa pelo fato de não ter incluído uma única música daquela sua apresentação inaugural.

Longe demais das capitais foi o nome desse primeiro disco, lançado em outubro de 1986. Não foi o primeiro que ouvi da banda, pois quando eu os conheci já era a fase do Surfando Karmas & DNA (2002). Mas como aquele tipo de letra caía bastante no meu gosto, fui atrás de todos os outros e cheguei a esse primeiro disco, que não é dos mais aclamados pelos fãs, anterior que é à clássica formação “GLM”. Hoje, quando já ouvi todos os outros discos, tenho ainda um carinho especial pelo de estreia dos Engenheiros, no qual vejo méritos que nem sempre foram reconhecidos.

Esse é o disco que começa com a famosa “Toda forma de poder”, a qual dá bem a ideia de uma das principais dimensões do disco, qual seja, a política. De fato, com exceção talvez de O papa é pop (1990), em nenhum momento os Engenheiros do Hawaii foram tão políticos quanto nesse disco. Gessinger brada contra autoridades, contra o uso da força e da violência. Aquele “toda forma de poder é uma forma de morrer por nada” é evidência de uma indignação generalizada de laivos protoanarquistas. De fato, era “a coisa toda” que estava errada (de Fidel a Pinochet), e não adiantava atirar bombas em embaixadas – ao longo de toda a carreira, as letras de Gessinger sempre sugeriram a resistência não violenta como estratégia para enfrentar a realidade.

Hoje, quando já ouvi todos os outros discos, tenho ainda um carinho especial pelo de estreia dos Engenheiros, no qual vejo méritos que nem sempre foram reconhecidos.

As palavras, as promessas, tudo aquilo que se diz na frente das câmaras, já não tinham mais efeito algum sobre as expectativas de Gessinger – ele até prestava atenção no que diziam, mas eles não diziam nada. Na antibélica “Beijos pra torcida”, ele reforça: “Procuro entender qualé a desses caras” e “Falam tanto sobre guerra e paz, mas tanto faz falar ou não”. Questiona-se os próprios de meios de comunicação que permitem que as autoridades falem, falem, mas não digam nada – e que, por outro lado, ofereciam o “pão e circo, que pé no saco”. Com o olhar preso no vídeo, esperava-se “o suicídio de algum boçal”, como se a vida fosse algo a aparecer no Jornal Nacional.

É interessante ver em “Longe demais das capitais”, a música, como a visão “interiorana” pode tentar refrear as novidades (“Eu sempre quis viver no Velho Mundo, na velha forma de viver”). Duvidava-se da modernidade não pelo que ela era capaz de fazer, mas porque se sentia que os humanos ainda eram essencialmente os mesmos (é a ideia por trás de “Crônica”, a música mais “social” do disco).

Essa situação levava a uma tal descrença nas mudanças que a banda escreveu “Fé nenhuma”, um verdadeiro petardo niilista que nunca mais iria se repetir na história dos Engenheiros. Trata-se de uma aproximação ao conceito punk de no future, bem explícito no verso “Talvez você se esqueça: você também não tem futuro”. O que nos leva a outra das mais importantes dimensões do disco de estreia, a do existencialismo, presente até nos reggaezinhos mais descompromissados, como o de “Nossas vidas” (“A gente faz de tudo, mas nada faz sentido”).

A ideia de um fim aparentemente inevitável (“Em todo lugar, um pedaço do fim”) é associada à solidão quando Gessinger inverte a famosa máxima e assume: “Todo mundo é uma ilha”. Nem por isso se deixa de buscar uma pessoa que o faça esquecer de tudo o que vê no mundo, mas não costuma ser fácil encontrá-la ou até mantê-la (“Eu te perseguia, mexendo na antena, mudando o canal, você sempre fugia”, “Eu te procuro, está tão escuro aqui”, “Você se esconde, eu sigo a sua pista”, diz, em diferentes músicas). Há um eixo “romântico” nas letras do primeiro disco, mas nunca é um amor satisfeito, e sim o tatear de alguém que, num mundo hostil e sem sentido, quer se ver completo em outra pessoa, mas não tem a certeza de conseguir (“Às vezes eu acordo assustado: a gente não tem nada a ver”).

Produto da juventude dos músicos, várias são também as brincadeiras (“Tudo se deu no banco traseiro de um Alfa Romeo”), sendo que Gessinger nunca mais voltou a cantar coisas como “Nós dois por aí, transando sexo gótico”. A vertente reggaeira, herança dos Paralamas e do The Police, também iria se perder com o tempo, embora tenha permanecido a ideia de um power trio. Nesse primeiro disco, o baixista ainda era Marcelo Pitz, cujo baixo deita e rola em canções como “Sweet begônia”.

As aliterações ainda não eram muitas (“O fascismo é fascinante”), mas já há nesse disco citações literárias (Scott Fitzgerald, Umberto Eco) e muito do que faria dos Engenheiros a improvável banda mais popular do país no início dos anos 90.

Tags: CrônicaEngenheiros do HawaiiHumberto GessingerLonge demais das capitaisMarcelo Pitzrock gaúcho

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