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Home Crônicas Henrique Fendrich

Se eu ganhasse na Mega-Sena…

porHenrique Fendrich
15 de junho de 2016
em Henrique Fendrich
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"Se eu ganhasse na Mega-Sena...", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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Seria realmente extraordinário, sobretudo porque eu não costumo jogar. Nunca comprei um bilhete, e acho que o máximo que fiz até hoje foi ajudar alguém a preencher um ou outro. Minha aposta não é melhor do que a de qualquer outra pessoa, eu também escolho os números que me são mais simpáticos, o dia do meu aniversário, a minha idade, e por aí afora. Nem por isso deixo de tentar estabelecer um certo padrão, como se o resultado do sorteio tivesse que obedecer alguma lógica, e como se essa lógica pudesse ser encontrada com algum esforço de concentração. Mas não parece ser assim, já que nenhuma das pessoas que ajudei saiu vencedora. O fato é que eu, eu mesmo, não compraria um bilhete para mim, de modo que, para que eu ganhasse na Mega-Sena, seria preciso encontrar um bilhete premiado na rua – hipótese só um pouco mais improvável que acertar os seis números.

E não compraria porque, entre as minhas falhas de caráter, está a ausência de qualquer desejo de enriquecer. Não sei como isso aconteceu, se foi alguma vacina que eu deixei de tomar ou o quê, mas a verdade é que eu nunca manifestei muita inclinação para os prazeres materiais da vida. Talvez eu até tenha alguns interesses bem específicos, mas eles seriam satisfeitos com muito menos do que a Mega-Sena oferece. Isso me lembra que, quando criança, eu tinha um cofrinho no formato da Caixa-Forte do Tio Patinhas. Todo dia meu pai botava lá dentro as moedinhas de troco que recebia. Quando o cofre enchia, eu fazia a contagem e tinha direito a um terço do dinheiro, o resto ia para a poupança. Isso me dava cerca de R$ 17, que eu gastava em revistinhas na banca do jornal. Se eu ganhasse na Mega-Sena nesta época, gastaria todo o dinheiro em revistinhas (talvez meus pais não aprovassem).

Entre as minhas falhas de caráter, está a ausência de qualquer desejo de enriquecer.

Quando fiquei maior, apenas troquei as revistinhas pelos CDs. Os CDs eram mais caros, geralmente só podia comprar um CD por cofrinho, e isso me levou um dia a proclamar aos meus amigos que o primeiro salário que eu ganhasse na vida seria gasto todinho em CDs. Por sorte, quando isso aconteceu, já era possível baixar músicas gratuitamente pela Internet, e assim eu pude gastar o dinheiro em outras coisas, como, por exemplo, comer.

E mesmo agora, na vida adulta, se eu me visse diante de uma fortuna como estas que a Mega-Sena entrega, não me ocorreria muito mais a fazer do que comprar alguns livros – essas revistinhas de gente grande. Talvez fizesse também uma viagem à Europa e pronto, estariam satisfeitos os meus desejos de consumo. Minha mãe provavelmente desejaria um apartamento, e então eu daria o apartamento a ela, e veria também o que meu pai quer, mas eu mesmo, se as coisas dependessem de mim, continuaria pagando o mesmo aluguel, só que agora com bem menos dor de cabeça. E também não teria carro, como nunca tive, e até hoje não morri. Acreditem, no dia seguinte eu iria trabalhar normalmente, de ônibus ou bicicleta, como se realmente nada tivesse acontecido.

E talvez seja melhor que nada aconteça mesmo, eu pelo menos imagino que receber de uma vez uma bolada dessas traria sérias ameaças à minha paz – uma paz de pobre, mas, ainda assim, paz.

Tags: CrônicadinheiroMega-Sena

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