Ela se olha no espelho e não se reconhece. A sensação de estranhamento não dura muito. Mas por um, talvez dois minutos, enxerga uma outra mulher que a mira, inquieta, nos olhos, em busca de respostas. “Quem é você?”. “O que está fazendo aqui?”. “Por que me olha assim?”.
As perguntas, óbvias, são dilacerantes, porque ao longo daqueles segundos intermináveis, que vão se dilatando, ela interroga ao mesmo tempo em que é crivada por uma rajada de interrogações. O incômodo é imenso. Parece que vai morrer e falta-lhe o ar.
Pode ser uma crise de pânico. Já leu muito a respeito e alguns dos sintomas batem: o coração descompassado, junto a um inesperado suor frio que lhe gela a alma, ao mesmo tempo em que sente mãos invisíveis apertando seu pescoço, a sufocando. A mulher no espelho, contudo, permanece imóvel, a não ser pelos dedos crispados, que se agarram ao estofado da cadeira, como se ela fosse cair.
A impressão de que vai morrer a qualquer instante a faz sentir como se estivesse andando na ponta dos pés à beira de um fosso escuro, de um abismo de força magnética, de onde filamentos muito finos emergem e se enrolam em suas pernas, subindo pelo torso até envolver seios, colo e pescoço. Pode sentir a viscosidade úmida dos tentáculos, mas quando firma o olhar, nada vê refletido no espelho. Apenas o peso. O olhar torna-se gélido, os lábios se entreabrem com sutileza, anunciando um grito surdo, que jamais ecoa.
Pode ser uma crise de pânico. Já leu muito a respeito e alguns dos sintomas batem: o coração descompassado, junto a um inesperado suor frio que lhe gela a alma, ao mesmo tempo em que sente mãos invisíveis apertando seu pescoço, a sufocando. A mulher no espelho, contudo, permanece imóvel, a não ser pelos dedos crispados, que se agarram ao estofado da cadeira, como se fosse cair.
Ela tem vontade de chorar, sair dali correndo, mesmo sem saber para onde. Não sabe onde está, assim como também esqueceu quem é, ou um dia foi. O uivo contido vem das entranhas, que se contorcem, doem. Ela tenta se levantar e os pés não aceitam seu comando. Ficam inertes, bem comportados, rentes ao chão.
Quando finalmente ela se reconhece, e lembra o que está fazendo ali, solta um longo suspiro, inaudível. Alívio, misturado a um imenso cansaço. A familiaridade do olhar que agora a fita, solidário, do espelho, a consola um pouco. Ela começa a retomar o controle dos movimentos e se levanta sem tirar os olhos de si mesma. Ao perder-se por aquele par de minutos, viu uma mulher que antes desconhecia. Sabe que agora tem companhia em sua solidão.