Pontes são espetaculares. Não apenas porque conectam duas localidades que, de outra forma, seriam muito mais distantes, mas, também, são feitos humanos que intrigam, fascinam, porque não resultam apenas da engenhosidade de quem as projetou. Apenas se concretizam graças ao trabalho de muitas e muitas mãos. Sangue, suor e lágrimas, diria o clichê que, quase invariavelmente, guarda muita verdade em toda a sua inegável obviedade.
O jornalista norte-americano Gay Talese, um dos gênios do jornalismo literário mundial, dono de uma escrita elegante até a última letra, sensível sem nunca resvalar no sentimentalismo, narra em um dos textos que integram seu livro Fama e Anonimato (Companhia das Letras) o processo de construção da ponte suspensa Verrazano-Narrows, que liga Staten Island ao Brooklyn, distritos da cidade de Nova York.
Talese descreve com incrível detalhismo tanto como se deu essa incrível proeza da engenheira moderna, realizada na primeira metade dos anos 60, quanto as histórias dos homens anônimos que tornaram possível a concretização de um projeto considerado impossível. “Uma loucura”, diziam.
Para mim, essa impossibilidade é o que há de mais belo – e fascinante – nas pontes. Elas parecem brotar de um desafio: como tornar mais curta a distância entre dois lugares, separados por um rio, uma baía ou um abismo? Esse desejo de chegar, de colocar um caminho sob os pés onde só há ar, água e limitações, me intriga, desde menino, quando vi de perto a construção da Ponte Rio-Niterói no início dos anos 1970.
Para mim, essa impossibilidade é o que há de mais belo – e fascinante – nas pontes. Elas parecem brotar de um desafio: como tornar mais curta a distância entre dois lugares, separados por um rio, uma baía ou um abismo?
Quem já teve a oportunidade de percorrer de trem a estrada de ferro que liga Curitiba ao litoral do Paraná, através da deslumbrante Serra do Mar, não se esquece da Ponte São João. Prodígio da engenharia do século 19, foi projetada no Brasil e construída na Bélgica, para depois ser transportada aos pedaços à Graciosa, onde foi montada para se tornar a mais longa da ferrovia, com 112 metros de extensão. Das janelas dos vagões vê-se uma paisagem edênica da Mata Atlântica. Sob os trilhos suspensos no ar, 55 metros separam os passageiros a bordo do fundo da grota do rio que corre lá embaixo, também batizado em homenagem ao apóstolo. É de tirar o fôlego.
Aproximar e unir são, ou deveriam ser, instintos humanos, inquebrantáveis. A ponte mais antiga que chegou aos dias atuais é uma construção de pedra, em forma de arco, erguida sobre o Rio Meles, na região da cidade de Esmirna, sudoeste da Turquia. Calcula-se que date do século IX antes de Cristo. Seus mais de 2.900 anos de existência atestam que transpor distâncias, conectar, desafiar o impossível nos define, e nos mantêm em movimento.
Também somos pontes.