Em uma das centenas, senão milhares, de cartas trocadas entre d. Pedro II e a condessa de Barral, o imperador escreve à ex-preceptora de suas filhas a respeito de sua visita ao Paraná. “Sou o mesmo que lhe inspirou tanta afeição, e de nada me esqueço tudo revivendo em mim com o mesmo viço de uma afeição de trinta anos. Ah! Se lhe contasse tudo o que imaginei nas lindas noites dos campos do Paraná! A idade não tem podido contra um coração todo seu.”
Como o tom afetuoso do monarca denuncia, sua relação com a mulher a quem confiou a missão de educar as princesas Isabel e Leopoldina foi muito além da mera cordialidade entre um empregador e sua funcionária. E também ultrapassou os limites da amizade. Foi uma bela e perene história de amor.
No livro Condessa de Barral – A Paixão do Imperador, lançado em 2008, a historiadora Mary Del Priori transforma em protagonista uma personagem que, embora sempre muito citada nas biografias de d. Pedro II, nunca havia sido dissecada com tanta atenção e detalhismo. Em breve, a história do relacionamento com o monarca brasileiro será contada em Nos Tempos do Imperador, novela histórica da Rede Globo cuja estreia foi adiada por causa da pandemia de Covid-19. Na trama de Thereza Falcão e Alessandro Marson, que irá ao ar no horário das 18 horas, a condessa será vivida por Mariana Ximenes e d. Pedro por Selton Mello. A imperatriz Thereza Cristina, esposa do imperador, é vivida por Letícia Sabatella.
No livro Condessa de Barral – A Paixão do Imperador, lançado em 2008, a historiadora Mary Del Priori transforma em protagonista uma personagem que, embora sempre muito citada nas biografias de d. Pedro II, nunca havia sido dissecada com tanta atenção e detalhismo. Em breve, a história do seu relacionamento amoroso com o monarca brasileiro será contada em Nos Tempos do Imperador, novela histórica da Rede Globo cuja estreia foi adiada por causa da pandemia de Covid-19.
Quando Luísa Margarida Portugal e Barros vem ao mundo, em 1816, na região do Recôncavo Baiano, poucos são os indícios de que ela poderia se tornar uma das brasileiras mais fascinantes do século 19. Talvez o fato de seu pai, Domingos, além de senhor de engenho, também ser um homem letrado, sugerisse que a menina, natural de Santo Amaro da Purificação, poderia romper com uma linhagem de mulheres submissas, criadas para o casamento e o lar. Mas não eram favas contadas.
Premiada com o Jabuti na categoria de Ciências Humanas, por A História das Mulheres no Brasil, Mary Del Priori lança mão de seu amplo conhecimento sobre a trajetória da condição feminina no país para não apenas narrar a saga de sua heroína. O brilhantismo do livro está no esforço de contextualizar a incomum trajetória de Luísa numa ordem social dentro da qual muito poucas tiveram voz.
Criada em meio a livros e jornais desde a infância, Luísa se beneficiou de uma importante mudança nos rumos de sua família: seu pai, d. Domingos, que havia estudado na Europa, foi designado por d. Pedro I a assumir o posto de embaixador do Brasil, que acabara de ficar independente, em Paris. O ano era 1824 e a menina tinha apenas 8 anos.
A mudança da Bahia para a capital da França foi determinante na transformação de Luísa numa jovem culta, elegante e cosmopolita. Quando ela retorna ao Brasil, em 1837, aos 21 anos e já casada com o conde de Barral, parente de Napoleão Bonaparte, ela é uma mulher refinada e sensível ao mundo ao seu redor. Tanto que, desde sempre, fez oposição à manutenção da escravatura, que considerava um flagelo vergonhoso.
O texto primoroso de Mary Del Priori, que venceu o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte por O Príncipe Maldito, une duas qualidades que não costumam caminhar juntas: o rigor acadêmico, evidenciado pela ampla pesquisa histórica; e a fluência e a exuberância de sua prosa, que muitas vezes flerta com a boa narrativa literária.
O relato do caso de amor entre Luísa, a condessa de Barral, e d. Pedro II, quase dez anos mais novo do que ela, é arrebatador, cinematográfico. Marcado por flertes, encontros, despedidas, segredos e mistérios. Mas, sobretudo, discrição. O jovem imperador, quando passa a conviver com a preceptora das filhas, acompanhando suas aulas, descobre o fascínio da mulher pensante, cultivada e dona do próprio nariz. A paixão, se não é à primeira vista, os impregna até a alma. E se estende ao longo de 35 anos, até 1891, ano da morte de ambos.